20160130


Durante este fim de semana irei estudar com o meu filho. Filosofia. A origem estrutura dos valores, qualquer coisa deste género. Mesmo a calhar! Tomara eu saber a origem e estrutura do pão de forma, quanto mais a origem e estrutura dos valores. Tomara eu saber o que me faz decidir o quê, o que me faz escolher o quê, o intrincado mecanismo que me foi construindo e desconstruindo com a sensatez e a beleza e o bom cheiro de quem coloca e retira as camadas de uma cebola até dar aquele produto final, porventura até, na sua idiossincrasia, agradável aos olhos, mas tão desagradável assim que nos aproximamos dela e lhe tocamos e a cheiramos e a choramos, camada após camada.

Não sei, nunca soube, tive sempre uma dificuldade tremenda em entender porque me devo dividir entre o que quero fazer e o que devo fazer. Num mundo perfeito - numa pessoa perfeita? - esta questão não deveria sequer ter lugar. O que eu quero deveria ser sempre o melhor, ou então o melhor deveria ser sempre o que eu quero, assim, de uma forma clara, límpida, inquestionável, evidentíssima, de forma a impossibilitar qualquer réstia de dúvida. Teria sempre a certeza, viveria sempre da certeza, irradiaria certeza, podendo ser certeza para os outros. Conheço pessoas assim, que nunca se questionaram, que nunca se colocaram em causa, rochedos, blocos graníticos, inamovíveis, perenes... distantes... frios... sem vida... sós...

Pois... mas deve ser bom volta e meia estar cheio de certezas!

20160129



Tenho um fraquinho forte por pessoas. Principalmente malta nova. Principalmente aqueles cujo potencial permanece escondido sob várias camadas de timidez, falta de amor próprio, de conhecimento de si. Poder participar no seu desvelamento é um privilégio apenas comparável à tremenda responsabilidade que acarreta.

Na nossa caminhada nunca sabemos bem o que nos marca indelevelmente. Por vezes acreditamos que são os momentos grandes, as grandes obras, os grandes filmes, as grandes conversas, mas surpreendo-me a recordar qualquer coisa de uma qualquer BD das dúzias que li em miúdo, uma qualquer conversa com alguém que chegou e seguiu mas que disse algo que na altura até passou despercebido, uma fala qualquer de um filme de terceira categoria que, de tão banal, encontra na vida vivida muitas oportunidades para se manifestar. São frases, pensamentos, letras de música que de repente fazem sentido e dão sentido quando mais precisamos. Talvez por isso, raramente me inibo de dizer algo que me parece apropriado, ainda que aparentemente seja levado pelo vento. Talvez, num qualquer dia, numa qualquer circunstância, o que foi dito possa ser de alguma forma útil e ajude a dar sentido ao que carece de sentido.

Acredito que todos somos mestres e aprendizes, uns mais que outros, é certo, porventura mais uma altura que noutras, mas todos temos, consciente ou inconscientemente, algo a ensinar e muito a aprender. Qualquer que seja a fase da nossa vida, qualquer que seja a fase da vida daqueles com quem nos cruzamos todos os dias, há neste intercâmbio de sabedorias um encanto que me é sempre sedutor... e comovente.

Ultimamente tenho sido eu o desvelado. Por alguém sábio, muito mais sábio que eu, que concilia dedicação, atenção e abnegação com uma mestria apenas ao alcance de quem ama. E ama muito! Confesso que nestas alturas me sinto particularmente abençoado por Deus. Porque, tal como dizia ontem aos meus miúdos da catequese, Ele nos ama o suficiente para colocar no nosso caminho, quando mais precisamos, alguém que nos faz sentir que (ainda) valemos a pena.

E ainda há quem não acredite em anjos da guarda!

20160125


Quem nos visse, aos sete, bem dispostos e a rir às gargalhadas, facilmente esqueceria o lugar onde nos encontrávamos. Tínhamos ido visitar o Jorge e aquela sala de visitas parecia a sala da nossa casa. Ele, olhos vivaços, a falar até não poder mais, a brincar até não poder mais, desinibido como não o conhecíamos antes; nós, felizes, imensamente felizes, por podermos estar ali com ele, depois do acidente, depois do horror, depois do medo, depois de o julgarmos perdido para sempre.

"É um milagre!" Isto, dito por um dos meus filhos, gerou a contestação de outro "foi um ato médico, não um milagre". Sorri. Espero que os meus filhos médicos não se esqueçam que os milagres fazem parte da vida de todos nós. Que não têm que ser anunciados a partir de uma luz vinda do céu que nos deixa maravilhados com as coisas de Deus, mas que têm uma luz que irradia das pessoas que se esforçam por dar mais vida aos outros, nas suas mais variadas formas, nas suas mais variadas competências, conscientes ou não que somos todos veículos de Deus para que Ele possa acontecer na vida de cada um.

Acho fascinante quando estou convencido que já sei tudo e de repente, vindo do nada, se faz uma nova luz sobre um determinado tema. Trabalho há vários anos com a Samaritana nos dias de reflexão e recentemente tive uma epifania: Jesus pede água porque, naquela altura, água é a única coisa que a Samaritana acredita que lhe pode dar. Ao se colocar numa posição de necessidade, de inferioridade, face a quem se considerava imensamente inferior (mulher, já com cinco maridos, samaritana, descrente de si própria...) Jesus possibilita a sua transformação numa nova pessoa, numa nova vida.

É-me muito fácil sentir-me pequeno quando efetivamente sou pequeno: quando estou perante quem é mais, quem sabe mais, quem pode mais. É até uma inevitabilidade: seria uma estupidez se, mesmo nessas circunstâncias, mantivesse a minha natural arrogância. Mas despir-me dessa arrogância quando acredito poder mais, quando estou convencido ser mais, isso é tremendamente difícil... e raro. Este colocar-me abaixo, este fazer-me pequeno (muito diferente do sentir-me pequeno) para que outro possa ser maior exige uma capacidade de discernimento que apenas acontece se for natural e não auto-imposto, apenas acontece se o tiver sido tantas vezes que se torna parte efetiva do que sou. É sobretudo isso, o que, pelo menos nesta altura, tenho que aprender: a fazer-me pequeno. Apenas isso me permitirá ver e agradecer os milagres que acontecem todos os dias à minha volta.

20160120



Pensei eu, erradamente (as coisas que eu penso erradamente davam para fazer um novela!) que por esta altura já não sonharia. Ainda há pouco tempo, num dos dias de reflexão, perguntaram-me qual era o meu sonho. Curiosamente, deu-me uma branca e respondi uma banalidade qualquer. Para além de aquela não ser a altura nem o interlocutor ideal para grandes renovações, a questão é que não tinha havido grandes espaços para sonhos. Já plantei árvores, já fiz filhos, vou escrevendo por aqui (e isso chega-me, obrigado) e já não há nada de substancial que  me faça querer mover montanhas. Deveria, portanto, passar a sonhar menos e a dormir melhor.

Pois...

Hoje fui caminhar. Como tem acontecido sempre à quarta-feira, quando chego tudo é cinzento. À minha volta, as nuvens anunciam tempestade, o frio entra-me pela gola dentro e nem o bolso do casaco me aquece as mãos... quanto mais a alma! Quando regresso ao carro, no entanto, o panorama alterou-se radicalmente. Sento-me ao volante mais feliz, mais sereno, mais pensativo, mais sonhador, com a alma incomparavelmente mais cheia. E com os sonhos à flor da pele!

Um padre amigo dizia que mais vale uma vida gasta que enferrujada. Não me parece muito difícil morrer enferrujado. Acabadas as grandes conquistas, a tentação de se deixar ir, o conforto das certezas e as desculpas das conveniências são grandes pretextos para se ir deixando de viver. Eu sei-o porque sou bom a utilizar esse tipo de desculpas e justificações para me deixar estar. E estaria muito bem se não tivesse visto a  apresentação de Timor e não me tivesse apetecido ir para lá de armas e bagagens, se não estivesse agora mesmo a vibrar de vontade de regressar a Taizé, se não projetasse já uma nova caminhada a Santiago, se não chegasse a casa estafado mas feliz depois de um dia de reflexão... a questão é que eu gosto de me sentir vivo, a questão é que gosto de vibrar, a questão é que gosto pouco que um dia seja meramente seguido do outro, sem que aconteça nada que me aqueça a alma. A questão é que eu preciso de sonhar, ainda que de dia, e imaginar felicidades.

Ainda que as noites sejam acordadas a tentar encontrar formas de as tornar possíveis.

20160119


Todos os dias cumpro o meu pequeno ritual: chego, tiro o moleskine e o computador, ligo-o, abro, invariavelmente, os mesmos programas, dou Graças e inicio o meu dia. Creio que terá sido em Taizé que comecei a valorizar estes rituais profanos que me introduzem no quotidiano. Mesmo agora, que tenho a cabeça já lá, antecipo com muito gozo o chegar ao calor daquela igreja, despir o casaco, descalçar-me, sentar-me, e deixar que o espírito me invada e tome conta dos meus pensamentos. Ao fim de alguns dias a fazê-lo penso no ritual japonês do chá, que nós não conseguimos entender, mergulhados na nossa pressa de viver.

Comecei ontem a ouvir o que oiço todos os anos: que já tenho a cabeça em Taizé. É verdade. Por um lado, tem mesmo que o ser. Imperativos de organização fazem com que tenha que organizar ideias e momentos e ficheiros e contactos em função daquela semana de excelência. Mas, tal como acontece com os meus quotidianos rituais profanos, há já um gozo de antecipação, um mergulhar no espírito, que lentamente se vai sobrepondo ao que tem que ser.

Particularmente quando falamos de amor, a perspetiva do encontro é quase tão boa quanto o próprio encontro, como tão bem o disse Saint Exupéry. Assaltam-nos as memórias, despertam-se os sentidos, preparando-nos intimamente para o pormenor - o amor é feito de pormenores - como que vestindo a alma para o tão desejado reencontro.


Sim, talvez já comece a estar, de certa forma, em Taizé. Até porque Taizé, particularmente este ano, irá ser presença espiritual, sinal do amor que não se vê mas que pulsa nas entranhas e preenche, complementa, completa, e faz com que viver intensamente valha a pena.

Sim. Talvez parte de mim esteja já em Taizé. 

Deus seja louvado!

20160118


Raramente é bom sinal não conseguir escrever. Sento-me e começo, por meia dúzia de vezes, apago e levanto-me outras tantas. Por mais que tente, por mais que queira, as palavras atabalhoam-se como se se tivessem lançado todas, de cabeça, para um funil e aí permanecessem, desordenadamente, aos magotes, à espera do rumo que eu ainda lhes não consigo dar.

E não é apenas aqui, no blogue, que isso acontece. Mesmo quando pego na caneta e começo a tentar traçar o esquema que me foi indicado por sabedoria amiga, dificilmente paço da primeira meia dúzia de rabiscos. A uma questão sobrepõem-se logo outras que exigem respostas e que permaneciam adormecidas há bastante tempo. E, novidade das novidades, começo a ter a perceção que tempo é algo que se me começa a escapar por entre os dedos.

Ontem, na homilia, a minha cabeça anda à volta de tudo isto. Da vontade de me serenar, da necessidade de me serenar, da imperatividade de me serenar interiormente para que possa traçar rumos. Tento escutar a Palavra, sempre que me (des)encontro assim, que é, a par com aqueles que me amam, a fonte onde tento saciar a minha sede. Comparo o que escuto com o que sinto e tento aferir se porventura estarei em (des)sintonia e concluo, não raras vezes, que porventura terei que voltar (des)focar sob pena de continuar sem ver, e não conseguir (des)construir. São muitos "des", para o meu gosto, porque implicam "res" numa altura em que me via mais a gozar louros do que foi sendo alcançado.

Questiono-me se não será essa, no entanto, a minha essência. Afinal, enquanto houver "res" na minha vida, pelo menos sinto-me vivo.

E a sonhar o futuro.

20160111

Estávamos todos a ouvir o Fredo, emocionados até à medula - há vidas onde parece que aconteceram trinta vezes mais coisas que nas nossas e em metade do tempo - e eu pensava numa conversa que tivéramos alguns dias antes. O desassombro com que se assume a própria vida, sem máscaras ou fantasias, é essencial para que o encontro pessoal possa servir de catapulta para novos voos. Eu levei muitos anos a perceber a inevitabilidade de o fazer, de tão entretido que andava a brincar às pessoas, num processo que parece não ter fim porque volta e meia regressa à base com pontas ainda (mais) soltas. E sempre, sempre, a partir de motores fora de bordo, como eu lhes chamo. Pessoas que me conseguem ler com uma facilidade que me desconcerta sempre, que me dizem coisas que me chocam à partida mas depois vão fazendo caminho, lenta e progressivamente, por entre as fissuras que o tempo e a vida não conseguiram sequer disfarçar. Pessoas muito diferentes entre si, por vezes diferentes para mim, mas que têm como denominador comum o condão de me desvendarem de mim próprio e me levarem a perscrutar outros horizontes.

E eu com o desejo absoluto de serenidade como pano de fundo. Parece que quanto mais a persigo mais longe estou, mais arredado ando do caminho certo, afastando-me inexoravelmente de mim próprio.

20160105


Ontem foi o primeiro dia do resto da vida da Ana. No domingo já a tínhamos deixado em Vila Real, onde vai ficar este ano, e regressado de mãos vazias e coração apertado. É o nosso primeiro rebento adulto, que já tem o seu próprio apartamento e o seu próprio destino entre mãos. Ontem, ao jantar, perguntei em tom de brincadeira se ela não viria jantar. Foi o suficiente para ficar um pequeno silêncio... por pouco tempo. Tem havido uma espécie de preparação natural lá em casa, a partir da altura em que eles entram para a faculdade: uns dias vêm jantar, outros não, já nos conseguimos deitar apesar de alguns não estarem ainda em casa, já conseguimos adormecer com o sobressalto de não termos as camas todas ocupadas. É uma passagem facilitadora para nós que, pais galinhas e filhos pintainhos, fomos vivendo a vida toda juntos. Torna as coisas menos difíceis, ainda que antes de ir para a cama tenha ido ao quarto dela, como faço sempre, e o tenha visto arrumado. Está mesmo noutro lugar!

Ontem partilhava isto tudo e diziam-me que tenho uns filhos espantosos. Eu sei. Ninguém melhor que eu o sabe. Vou tendo cada vez mais gozo no gozo dos meus filhos, o que até pode ser estúpido se pensarmos que eu digo isto desde a altura em que foram concebidos. Mas eu, com todas as minhas incongruências, com todas as minhas fragilidades, com toda esta procura do caminho às apalpadelas, nasci para ser pai. Não conheço amor maior que os meus filhos, nem incondicionalidade como a que eu tenho por eles. E o bom é que eles sabem-no. Refilamo-nos muitas vezes, brincamos, ralhamos, rezamos, jogamos, cantamos e dançamos, e não há nada que valha a pena viver ou fazer que não tenhamos feito juntos. Desde cantar a altos berros no carro "tu és a estrela do meu sonho", dançar "Pra cima, pra baixo" do Pedro Abrunhosa enquanto íamos para qualquer lado, "enquanto houver estradas par andar" do Jorge Palma, até às noites em que dormíamos todos na minha cama enquanto a Isabel estava no cruzeiro ou nas colónias ou em qualquer outro lado porque qualquer pretexto era bom para dormirmos todos encavalitados uns nos outros na minha cama.

Deus! como adoro ser pai!

20160104


Volta e meia ainda sigo bons conselhos. De pessoas em quem confio, a quem reconheço sabedoria profunda e que sei que me amam profundamente e por isso me posso entregar a elas completamente sem rede. Como digo algumas vezes, pessoas assim não têm idade, raça ou género, têm alma, que normalmente é o nosso ponto de partida desse encontro mútuo.

Comecei este ano com vários propósitos e um deles é justamente, seguindo (lá está!) um bom conselho, redefinir rumos. Pode parecer estranho porque ainda este ano pretendo festejar o quinquagésimo aniversário e por isso tudo deveria estar já consumado, mas assim que me recolho parece-me sempre que está tudo muito mais para o consumido que para o consumado e descubro sempre que há ainda muito caminho para fazer.

E este parece-me um bom ponto de partida. O que me consome? O que me impele a irrequietude e os bichinhos carpinteiros que me impedem de serenar? Porque não estou eu ainda em condições de serenar? O que me falta? O que me sobra? O que me faz ainda correr atrás do carro que passa, como fazem os cães vadios?

Sempre me orgulhei de ser um bom reator. De ir sabendo viver com o que a vida me vai dando, moldando-o e moldando-me, transformado-o e transformando-me, adaptando-o e adaptando-me conforme ia podendo e conseguindo e as circunstâncias mo iam permitindo. Agora parece-me que o tempo poderá ser outro: o de ir eu a jogo. Mas para isso preciso de saber qual é o jogo que quero jogar e que cartas tenho eu na mão para poder jogar. Parece-me uma grande tarefa para o meu quinquagésimo. Será do 25?

20160102



Tinha acabado de entrar no carro com os meus filhos quando ouvi bater no vidro. Olhei e não quis acreditar, tal era a alegria. Desde há vários anos que nos vamos vendo apenas no Facebook e agora aqui estava ela, igualzinha apesar dos anos que passaram, a mesma cara de gaiata, o mesmo sorriso aberto e contagiante, os mesmos olhos vivos e sempre atentos, como desde sempre me recordava. "Continuo com mau feitio" dizia ela por entre gargalhadas enquanto olhava para o seu marido procurando confirmação. Rimo-nos imenso, desejamo-nos mutuamente bom ano e fomos à nossa vida. Com um sorriso maior no olhar.

Tenho sempre muitos mixed feelings no que respeita à amizade. Ora bate intensamente, ora adormece até novas instâncias e de repente desperta com uma saudade imensa e me apetece enviar mensagens a toda a gente. Ainda ontem vi uma data de pessoas que estavam num qualquer programa online e lá tive eu que começar meia dúzia de olás para logo a seguir os apagar sem os ter enviado. Esta hesitação, esta dúvida, este medo de me armar aos cágados e não saber guardar a distância que me é, ainda que tacitamente, pedida, é-me permanente. Nunca sei bem se se recordam de mim, que memórias guardam, que tipo de tratamento deu o tempo à distância que a vida impôs entre nós. Gosto de pensar que a maioria das memórias serão boas, que recordarão o que eu recordo: as partilhas, as orações, as caminhadas, o que cantamos, os retiros onde aprendemos imenso... Mas e depois? Digo olá e desligo, até daqui a mais meia dúzia de anos? E que possibilidade terei eu de dar continuidade à responsabilidade de uma amizade reatada? O que mudou agora que permitiria o que na altura a vida não permitiu?

Estava eu a sair de Serralves quando nos cruzamos. Sorriu para mim, sorri para ele e reconheci-o apesar do tempo que passou. Cumprimentamo-nos, trocamos situações, despedimo-nos pouco depois com votos de Boas Festas e um sorriso no olhar. Se ele não tivesse dado sinais provavelmente passaríamos um pelo outro sem ter dado lugar ao encontro, apesar de eu o ter reconhecido.

Hoje enviei olás. Poucos. Há dias em que a saudade não cabe no peito.

20160101


Serenidade - Alegria - Verdade - Liberdade

Apesar de não ter saído, esta foi uma noite mal dormida. Ter os meus filhos na gandaia não ajudou, é claro - há coisas que levam tempo a habituar-me! - mas não foi apenas isso. Pensava no ao que acabara, pensava no ano que começara, pensava no que queria da vida, pensava na tarefa que me comprometi a fazer e que, espero, me ajude a redefinir o rumo a seguir.

Toda a noite tive por companhia estes quatro companheiros: Serenidade, Alegria, Verdade, Liberdade. Apresentaram-mos há pouco tempo com uma intencionalidade e firmeza nunca antes tidas em tal linha de conta e desde então têm feito o seu percurso cá por dentro. Serenidade, Alegria, Verdade, Liberdade. Esta noite, por entre sonos e sonhos mal amanhados, pareceu-me um bom conjunto de referências para o ano que agora se inicia. Como uma noite de insónias dá para tudo, elaborei planos e atitudes e posturas e decisões para que pudessem assumir, também para mim, a intencionalidade e firmeza alheias. Cheira-me que algumas delas me irão dar bastante trabalho para verem a luz do dia, mas quanto mais pensava nelas mais me parecia que vinham ao encontro das minhas mais profundas necessidades.

Hoje de manhã estava na eucaristia e pensava como Deus tem colocado no meu caminho aqueles de quem mais vou precisando em cada fase da minha vida. E da enorme (quase insuportável) responsabilidade que isso me coloca, quanto mais não seja, ao obrigar-me a despertar da letargia que frequentemente se instala na minha vida. Ter quem me ame impulsiona-me sempre. E coloca-me em causa. Sempre! O anseio profundo de tentar corresponder a quem acredita em mim, a quem aposta em mim, a quem tem o desplante de ver em mim aquilo que, por mais que olhe, nunca consigo ver, tem sido o verdadeiro motor da minha vida. Acredito que o será mais uma vez. Assim eu consiga corresponder ao que me sinto impelido impelido a cumprir. Sob pena de, de hoje a um ano, Serenidade, Alegria, Verdade e Liberdade não serem mais que um conjunto de boas intenções despertadas por palavras bonitas.

Bambora

  Não é estranho que nos digam que «ser homem é muitas vezes uma experiência de frustração». Mas não é essa toda a verdade. Apesar de todos ...