Não se pode afirmar que tenha sido uma conversa inócua. Não tinha que o ser. Não convém nunca sê-lo, quando essa conversa acontece entre duas pessoas que fazem questão de partilhar como vivem: sem nada na manga. Perla enésima vez ouvi, nestes últimos tempos, sempre dito por quem, de alguma forma, de ama, que estou diferente. Desta vez foi acrescentado o "desde que foste para o Centro". Apesar de toda a abertura, apesar de todo o caminho, apesar do todo que nos une, a sensação com que fiquei, até pelo veio depois, foi que algo tinha escapado da boca para fora, vindo diretamente de dentro.
Ainda bem.
Como sempre acontece com o que considero verdadeiramente importante, o "estás diferente" armou tenda e acampou. Sim, eu sei. Eu próprio noto essa diferença. Não sei ainda se é coisa boa, má ou assim assim, mas eu noto essa diferença. E também noto que, como me foi dito, estou menos tolerante com coisas que antes aceitava na maior, e encaixo outras com maior facilidade. Nada disto é por mim negado. Nada disto é amassado e deitado ao lixo.
Até porque é verdade.
Como não o poderia ser?
Nunca deixai que a vida me passasse ao lado. Nunca quis passar ao lado da  vida. E nunca deixei de querer mergulhar, intensamente, no que a vida me foi apresentando. Claro que isso tem repercussões no que vou sendo, a cada dia, a cada experiência. Claro que isso vai mudando a minha forma de ver o mundo e, fundamentalmente a minha forma de viver o mundo. E claro que isso provoca sempre o desagrado de quem me vai acompanhando e se habitua ao que sou em determinada altura. E normalmente magoa. com muita pena minha.

Faz hoje mesmo 24 anos que me casei. Quem me vai conhecendo pode imaginar o quanto eu mudei ao longo desse tempo. Pode, por isso imaginar, a dificuldade que a minha mais-que-tudo sentiu para se ir adaptando a cada momento àquilo em que a vida me ia moldando. Naturalmente, até pela sua relevância na minha vida, muito desse caminho foi feito na sua direção mas, com a mesma naturalidade, algum desse caminho foi feito em direção contrária. A minha mais-que-tudo tem uma tenacidade que não encontrei ainda em mais ninguém. E essa tenacidade, essa capacidade de permanecer apesar de tudo, tem sido absolutamente fundamental ao longo destes 29 anos que levamos de pertença um ao outro.
E como eu a amo (também) por isso!

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