Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!


Mário Quintana




Acontece-me por vezes ficar triste comigo mesmo. Que é diferente de ficar zangado. E mais grave! Fico zangado quando falho com alguma coisa. Fico triste quando falho com alguém. É muito diferente!

Quando falho com alguma coisa, não me é muito complicado encaixar essa falha. Não sou uma máquina, tenho sempre mil e uma coisas para fazer, ando sempre a correr de um lado para o outro e, cá por dentro, não espero ter o grau máximo de eficácia. Esforço-me ao máximo, empenho-me ao máximo, mas sei que tenho limites e que chego até eles muitas vezes. Zango-me comigo quando as falhas são evidentes e deveriam ter sido por mim previstas. Mas respiro fundo, revejo o percurso e sei que da próxima tentarei fazer melhor. Sem me martirizar.

Com as pessoas não é nada assim. Tudo se passa em cima de uma ténue linha que separa muita coisa. Importante! Com as pessoas é sempre importante. E quando me apercebo que meti água, que não soube parar para estar, que pus às coisas à frente das pessoas, sinto uma enorme desilusão. E tristeza. Porque, pelo menos comigo, as coisas passam, no final do dia. Quando encosto a cabeça ao travesseiro e faço a análise do que passou sei que raramente alguma coisa é tão importante que não tenha remédio. E mesmo que não tenha remédio, não há nada a fazer. As pessoas não passam. Ficam. Acampam. Permanecem sempre no meu mais meu, revisitando-me, particularmente quando deito a cabeça no travesseiro.

Ontem não foi um bom dia. Resta-me, mais que o consolo, a alegria de saber que, ainda assim, há quem me conheça.
Melhor que eu próprio.
E permaneça junto à correnteza.
À minha espera!

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