Penso frequentemente que a minha situação quotidiana natural é de espantamento. Um pouco como quando era puto e passava em frente ao Bazar Paris, em Sá da Bandeira, e via a imensidão de brinquedos, absolutamente inacessíveis, que estavam na montra, e depois me atrevia a espreitar, da porta - da qual nunca passei - aquele imenso céu de bonecada com a qual eu nem sequer sonhava, de tal forma me era interdita.

Hoje, esse espantamento não desapareceu. Anda por cá dando cor aos meus dias e fazendo-me acreditar no futuro. Naturalmente, já não tem como objecto brinquedos mas pessoas, de todas as idades, de todas as situações, com quem todos os dias me vou deparando e com quem vou aprendendo tanto!

Quando lhes digo como as admiro - há já muito tempo que aprendi como é bom dizer às pessoas o que gostamos nelas - invariavelmente olham para mim incrédulas como que à espera do que lhes vou pedir a seguir. A verdade, contudo, é que sinto mesmo admiração pelas suas capacidades, pela sua entrega, por serem capazes de fazerem das suas vidas muito mais que mera rotina.

E o melhor é que, particularmente nos últimos anos, tenho vivido rodeado de pessoas assim.
Que me ensinam todos os dias.


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