A nossa cruz


Ontem à noite tive um momento particularmente rico desta quaresma. Fui com o meu filho à Capela, um lugar que tem para mim um significado muito especial porque foi lá que me iniciei, por volta dos 15 anos, nestas coisas da fé foi lá que a comecei a transmitir e é lá que estão as minhas raízes profundas, a ponto de me sentir sempre em casa.

A determinado momento da celebração colocaram uma cruz no chão, ao jeito de Taizé, e convidaram as pessoas a irem rezar um pouco junto dela. Como sempre, estava num dos lugares do fundo e daí pude ver, à vez, a minha irmã, o meu irmão e o meu pai de joelhos junto à cruz. Depois também acabei por ir.

Enquanto lá estava senti como nunca que aquela cruz tinha sido o que nos manteve unidos. Apesar de tudo. Em tempos tivemos todos um negócio pelo qual batalhamos muito durante anos a fio mas que não conseguiu escapar a uma crise que então dava os primeiros passos. Todos dependíamos daquela empresa e todos ficamos com a vida muito atrapalhada. No entanto, nunca se ouviu uma palavra de recriminação mútua, uma acusação de menor empenho ou sabedoria. Nunca deixamos de nos encontrar, de festejarmos juntos quando era de festejar, de chorar juntos o que era de chorar. Sempre nos demos lindamente e fizemos questão que o mesmo acontecesse com os nossos filhos. Em tudo isto a nossa fé em Jesus Cristo - que vivemos de formas muito diferentes mas igualmente intensas e assumidas - foi a cola que nos manteve profundamente unidos, muitas vezes contra tudo e contra todos.

Ontem, quando eu próprio estava junto à cruz, senti como nunca que aquela era também a nossa cruz, que Jesus assumiu as nossas falhas de tal forma que possibilitou que nos mantivéssemos verdadeiramente unidos, amando-nos como sempre nos amamos, apesar das dificuldades. E que essa nossa cruz assumida por Jesus não era algo de figurado ou transcendente, mas muito real, muito efectivo, muito (ainda) dor partilhada por todos nós de cada vez que nos perguntamos como vai correndo a vida.

Nunca, como ontem, agradeci a Jesus por ter assumido a nossa cruz. É que os meus pais e os meus irmãos são uma parte muito importante de mim. E de forma alguma conseguiria viver sem a sua presença constante cá por dentro.

Dar a vida por amor é também isto: permitir que nós nos tenhamos uns aos outros.

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