20120425
Lembro-me de ter "conversado" com o Miguel Portas. Por blogue, claro está. Creio que na altura vivíamos tempos que antecediam referendo do aborto e eu tinha acesas discussões com quem me aparecia para além do monitor. Aguerrido, como sempre - não sei discutir civilizadamente - e muito especialmente aguerrido na coisa do aborto, que para mim era e continua a ser absolutamente inadmissível qualquer que seja a circunstância da mulher e da criança, não me calava e contra-argumentava sempre que podia. E conseguia.
Numa dessas discussões, em que eu me afirmava inteiramente convicto das minhas ideias neste campo e, por isso, totalmente irredutível, o Miguel Portas disse-me que ele normalmente considerava isso um mau sinal: que eu colocava as ideias antes das pessoas. E disse ainda que já viu muita gente boa que perdeu todo o encanto por causa da irredutibilidade das suas posições.
Foi, naturalmente, uma "conversa" muito fugaz, que esqueci durante muito tempo e que, curiosamente, hoje recordei. Não apenas porque o Miguel Portas morreu, mas também porque hoje voltei a defender aguerridamente uma posição quando toda a mesa se me opunha.
Curiosamente, a ideia que tenho de mim próprio não é nada o de uma pessoa aguerrida. Já afirmei muitas vezes - aqui e noutros lugares - que não tenho muitas convicções, não tenho raízes muito profundas e que, por isso, há muitos assuntos que são importantes para muitas pessoas mas que me passam completamente ao lado. No entanto, quando os temas me interessam - e a Igreja interessa-me sempre - tenho vindo a aperceber-me de uma certa desfaçatez em mim, de um certo desassombro, e descubro-me a manter uma posição qualquer que seja a minha circunstância.
Não gosto disto. Mesmo. Preferiria escutar atentamente, no meu canto, enquanto outros se digladiassem e assim aprender com eles sem correr o risco de parecer desagradável. Para além de ser muito mais cómodo talvez aprendesse mais pois estaria certamente mais disponível para escutar claramente o que era discutido.
O meu sogro dizia que "o Calado é um óptimo jogador."
Esqueço-me disto muitas vezes.
Tenho ainda muito que aprender.
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