Já referi aqui uma discussão que tive acerca da Igreja. Não referi, contudo, o tema, que girava em torno da necessidade de modernidade da Igreja.

Eu gosto muito da Igreja tal como ela existe na sua essência. O facto de não se modernizar, de não investir em marketing, de não se actualizar no que diz respeito à ordenação das mulheres ou do casamento dos padres não constitui senão, no meu ponto de vista, um factor de fidelização num mundo cada vez mais superficial, mais inconstante, mais modernaço.

Discutimos muitas vezes isto lá em casa, pois os meus filhos por vezes não entendem como a Igreja teima em se manter à parte desta corrente. Contudo, nunca me é muito difícil fazê-los perceber que se assim não fosse, se a Igreja cavalgasse sempre na crista da onda, não seria hoje referência de coisa nenhuma mas apenas mais uma organização cheia de conflitos no seu seio, tal como está agora a acontecer com as Igreja Anglicanas e as suas inúmeras questões disciplinares. Claro que não defendo uma Igreja imobilista, enclausurada em si mesma e alheia à sua circunstância. Defendo apenas que não pode nunca andar ao sabor da circunstância.

Uma das coisas que foram ditas durante a discussão foi que se Jesus hoje estivesse cá empregaria todos os métodos possíveis - marketing, tecnologias... - para chegar às pessoas. Tenho muita dificuldade me perceber que seria assim. No meu ponto de vista, Jesus privilegiaria sempre o olhar, a proximidade, o estar em detrimento do aparecer. Como Madre de Calcutá, por exemplo, que nunca foi vista a dar show em programas de televisão mas cativou o mundo justamente pela sua proximidade com os mais desfavorecidos. Aliás, acredito que é completamente errada uma argumentação desse tipo porque estamos justamente a não ver aqueles que todos os dias, em todos os lugares, são os verdadeiros continuadores de Jesus, em nome de um pretenso Jesus que recolocaria a Igreja no lugar onde merece: no centro das atenções. Não vimos isto já em qualquer lado?

Desculpem mas prefiro mil vezes uma Igreja que trabalha no silêncio, longe dos holofotes, na base da gratuidade pura - de vidas, de tempos, de disponibilidades - ainda que amadora e cheia de lacunas. Acredito profundamente que o seu contrário - uma Igreja de profissionais de qualidade, com excelentes performances musicais e até culturais mas profundamente vazia de vida. Porque nós também somos erro e limite e aceitação desses erros e limites.

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