Por vezes esqueço-me que também eu tenho dias assim.
O final do dia foi caótico, a noite francamente má e acordei com aquele sabor a papel de música que me dá cabo das manhãs. A viagem de metro até aqui, que costuma ser tão revigorante, hoje soube-me a sacrifício. Acabrunhado, encatrafiei-me no meu LG ao longo da viagem, refugiando-me no meu pequeno mundinho feito de blogues e notícias recheadas de coisa nenhuma. Ás tantas, lá pelos lados da Trindade, levantei o olhar para Te tentar descobrir. Nada. Absolutamente nada. Se viajavas àquela hora, comigo não era de certeza. Apenas consegui ver pessoas igualmente acabrunhadas, igualmente refugiadas, igualmente recolhidas nos seus próprios pretextos para não Te encontrar. Eu era apenas mais um. Voltei a mergulhar, de cabeça, no google reader até que chegasse a Casa da Música. Chegou. Levanto-me, mochila às costas, subo as escadas estranhando a Tua tão pouco habitual ausência. Letárgico, subo as escadas e deparo-me com a chuva. Bonito. Só faltava mais esta.

Então vi-a. Veio ter comigo. Nova, tremendamente nova, olhar perdido, basso, feridas na cara. "Pode-me dar alguma coisa para comer, por favor? Ou uma moedinha?" Como sempre faço, olho-a nos olhos e o que vejo é quase o nada. Sorrio: "Bom dia. Claro." Contrariando todas as minhas filosofias, meto as mãos no bolso e dou o que lá encontro. Não sorriu, não agradeceu, não se manifestou de forma alguma. Virou costas e seguiu. Eu também. A pensar. Que ela, hoje, eras Tu. Que Tu, hoje, eras ela. E que escolhes maneiras estranhas de vires ao meu encontro.

Comentários

Mensagens populares deste blogue