Não é coisa simples, amar alguém. Não me refiro à forma sublime de amar que é a da pura amizade, onde tudo é gratuitidade, nem do amor paternal, qe nos sai das entranhas e é quase obsessivo e irracional. Falo do amor a uma pessoa só, em exclusividade, em compromisso, em doação plena e voluntária de vida.

Não é coisa simples, amar alguém. Principalmente hoje, no nosso tempo, em que se procura (e bem) a felicidade acima de tudo, o usufruir acima de tudo e se foge do compromisso e das dificuldades a sete pés. Num tempo em que se vende o "foram felizes para sempre" com demasiada felicidade como se duas pessoas absolutamente distintas pudessem encaixar uma na outra como que por magia, sem deixar nada para trás. Num tempo e que se pensa que a felicidade é um direito e não uma conquista, em que se dá na medida do que se recebe esquecendo que recebemos na exacta medida em que nos entregamos. Num tempo em que se esquece que amar alguém implica vontade: vontade de amar, vontade de caminhar, vontade de baixar barreiras e ultrapassar limites.

Penso no amor conjugal, naquele que une duas pessoas entre si, em exclusividade e compromisso, como o amor que Deus tem por nós. Também Deus, como quem escolhemos amar, não precisa de nós, de nos amar, mas ama-nos porque nos quer amar. Também Deus, como quem escolhemos amar, sofre com as nossas imperfeições mas continua a vir ao nosso encontro. Também Deus, como quem escolhemos amar, não é fácil de amar, mas sentimo-nos melhor quando estamos em harmonia. Também Deus, como quem escolhemos amar, dá frutos com o Seu amor e dá vida e futuro e derruba limites fazendo-nos ir mais longe. Também Deus, como quem escolhemos amar, nos eleva até à categoria de deuses que tudo podem e tudo conseguem... no serviço ao outro.

Talvez por isso nunca consegui entender aquela coisa de colocar Deus acima de tudo e de todos. Deus está em tudo e em todos e é amando que eu O encontro. Não me peçam para colocar Deus acima da minha mulher, ou dos meus filhos, ou dos meus amigos, nem sequer daqueles que eu nem sequer conheço mas se cruzam comigo. O dia em que Deus, por absurdo, me colocasse na posição de ter que escolher entre aqueles que amo e Ele próprio, seria certamente o dia em que eu descobriria que, afinal, ele não é o meu deus.

Comentários

Mensagens populares deste blogue