Lembro-me que quando comecei a tocar viola ficava muitas vezes intimidado com aquilo que outros, muito melhores que eu, tocavam. Em vez de isso me levar a aprender mais, a empenhar-me mais para tocar melhor, desmotivava-me por completo. Ficava dias inteiros sem lhe pegar até que o bichinho voltava e lá estava eu com a menina ao colo.

Isso acontece muito, ainda. Quer com a viola, quer com a escrita, quer com outras mil e uma coisas, porque, com a Graça de Deus, vivo rodeado de pessoas cujas capacidades estão léguas acima das minhas. É frequente, por isso, ficar completamente embevecido quando leio um bom texto, oiço uma boa música, ou acompanho o nascimento de um extraordinário desenho a partir dos seus primeiros esquissos. Dou muito valor a quem o faz e normalmente faço-o sentir com facilidade.

O facto de conhecer os meus próprios limites não me impede, contudo, de saborear os dons dos outros. Nem sequer me tira o gozo de escrever, nem de tocar, nem de fazer outras coisas que faço mal mas dão-me um enorme prazer. Ajuda-me sim a colocar-me nos meus tamanquinhos, impede-me de me colocar em bicos de pés, e permite-me dar enorme valor àqueles que, em duas penadas, criam algo absolutamente genial.

E, muito importante para mim, permite-me um certo pudor, que é bom e eu gosto.

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