Pergunto-me - pergunto-Te - muitas vezes porquê eu? Se não te terias enganado, se não estarias demasiado ocupado para olhares com atenção, se foi um descuido da Tua parte, se tinhas outras preocupações naquele dia - uma guerra, um conflito qualquer, alguém esfomeado - e estivesses a olhar para outro lado qualquer quando me senti chamado. Algumas vezes gostaria mesmo que me tivesses olhado atentamente. Que tivesses concluído que não valia a pena, que Te daria muito trabalho - que me darias muito trabalho - e que seria bem mais simples e eficaz escolheres outros. E olha que eu conheço tantos que seriam tão melhores! Algumas vezes gostaria de poder dar essa desculpa sem sentir a culpa de me e Te estar a tentar enganar: não conheço, conheço mas não ligo, não quero saber. Algumas vezes gostaria de me poder refugiar na minha pequenez, no meu nada, conseguir barrar de alguma forma essa Tua mania de me encher o peito e acelerar o sangue e sentir uma vontade incontrolável e inconsciente de ser, de participar e de tentar fazer. Evitar-me-ia a ressaca do saber que não sou capaz, da certeza que não vou conseguir e sobretudo o medo, o terrível e desolador medo, do que vão pensar quando perceberem que não sou capaz nem consigo, quando perceberem que, afinal, não valia mesmo a pena! Um olhar mais atento da Tua parte ter-nos-ia evitado tudo isto. Porquê eu?
Creio que apenas encontrarei a resposta quando Te encontrar (encontrarei?) e, olhos nos olhos, tiver (terei?) a ousadia de Te perguntar (perguntarei?) porquê eu?

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