Eu sou católico. Não quero nem saber se sou um bom ou mau católico, na medida em que essas são formas de avaliar quem é mais ou menos, e eu acredito que na Igreja em que vivo e acredito esse tipo de avaliação ou julgamento não deve ter lugar. Eu sou católico. Não nasci uma família católica mas a vida encarregou-se de me dar a Igreja a descobrir e a possibilidade de a escolher. Poderia ter escolhido apenas Jesus - e não seria em nada menos por isso - poderia ter escolhido qualquer forma de protestantismo mas, depois de estudar as várias opções, escolhi a Igreja Católica como família à qual gostaria de pertencer. E pertenço!
Não sei se sou um bom católico. Como referi, não me interessa grande coisa. Assim como não me interessa se qualquer pessoa é ou não boa católica. Ou boa cristã. Ou boa muçulmana. Ou boa ateia. Quanto muito, interessa-me se é boa pessoa. Nunca esquecendo no entanto que todos nós temos os nossos momentos, bons e maus, e as nossas fases, boas e más, e a nossa vida interior, que normalmente permanece escondida aos olhares alheios e apenas a nós e a Deus diz respeito. Vou conhecendo o que diz a Igreja, o que escreve, diz e faz o Papa e os bispos e os padres a quem reconheço alguma sapiência, concorde ou não com ela. Vou lendo as escrituras e os documentos emanados pela Igreja, central ou local. Vou lendo o que escrevem os teólogos, encartados ou não, e, sobretudo, vou bebendo da imensidão de sabedoria que tenho o privilégio de partilhar daqueles com quem trabalho todos os dias. De todos eles recolho, analiso, guardo o que é de guardar, e tento deixar que impregnem a minha vida, o meu quotidiano, enriquecendo-o.
Nunca tive por hábito endeusar pessoas. Alguns dizem-me que será por desencanto mas eu acredito que será o oposto: são tantas as pessoas cujos gestos simples me encantam todos os dias que tenho dificuldade em enaltecer alguém apenas porque é mais conhecido por todos. É que eu não acredito nada em dons especiais, especialmente distribuídos pelo Espírito Santo sobre meia dúzia de eleitos, justamente porque para o Pai todos somos especiais e nenhum de nós está acima de qualquer outro de nós. Ou abaixo. E todos somos capazes de boas e más respostas ao Seu chamamento, consoante a nossa vontade e disponibilidade, devidamente condimentadas pelas nossas circunstâncias, e todos nós somos capazes de boas e más coisas, de boas e más palavras, de boas e más atitudes. Somos filhos, não somos deuses.
Naturalmente, não concordo nem gosto de tudo o que a Igreja diz ou defende. A Igreja que amo e na qual vivo permite-me que eu seja eu, exige que eu seja eu, ainda que isso dê a ambos mais trabalho, mais dúvidas, mais luta e, eventualmente, mais desgostos. É a mesma liberdade interior que eu transmiti aos meus filhos. Sabe Deus que seria mais fácil que eles fizessem o que eu quero quando eu quero mas sabemos todos que todos seríamos infinitamente menos se isso acontecesse. E quem ama quer sempre o mais, nunca o menos. Ainda que doa.
Eu sou católico. Ainda que seja frequente encontrar mais Igreja fora das igrejas que dentro delas. Ainda que sinta demasiadas vezes que complicamos as coisas ao ponto de quase escorraçarmos as pessoas. Ainda que no seu seio testemunhe, longe e perto de mim, lutas pelo poder que nada têm a ver com a Igreja de Jesus.
Mas tudo isso é largamente compensado quando estamos, à volta de uma mesa, a comer do mesmo pão e a beber do mesmo vinho. Aí, no meio de gargalhadas e conversas e discussões, onde todas as diferenças dão lugar à comunhão. Por vezes caio na tentação de acreditar que a vida de todos os dias deveria beber da Igreja. A Mesa, na partilha do pão e do vinho, recorda-me que a Igreja de Jesus partiu das coisas simples da vida de todos os dias! Foi aí que Deus escolheu habitar. Todos os dias. Em e com cada um de nós.

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