Ainda ontem comentava, a propósito do que dissera um amigo, que me vou apercebendo da tendência de falarmos sobre aquilo que nos é mais importante. A pessoa em causa é um tanto ou quanto intempestiva na sua abordagem aos outros. Como tenho tido o privilégio de trabalhar com ele mais intensivamente em vários projetos, tenho-me vindo a aperceber da sua necessidade de, nos seus momentos formativos, apelar ao cuidado que devemos ter na forma como lidamos com as pessoas que fazem parte do nosso quotidiano. Não o conhecesse como conheço e pensaria que ele faria um exercício de hipocrisia ao aconselhar aquilo de que ele próprio mais necessita. Mas na realidade eu sei que ele refere justamente aquilo que é mais importante para si próprio, e que ele sabe que não consegue alcançar com facilidade.
Ainda esta semana, enquanto o escutava, constatava que eu próprio faço isso com muita facilidade. Alguns dos conselhos que vou dando ser-me-iam muito úteis se eu me escutasse devidamente quando os deito da boca para fora. A história do sol na eira e chuva no nabal, da importância de nos conhecermos bem para podermos discernir os nossos dons e os colocar ao serviço dos outros, o valor do silêncio e da serenidade interior, tudo isso são coisas que eu digo com alguma frequência, mesmo precisando delas com a máxima urgência. Por outro lado, talvez os refira justamente porque tenho consciência de como me fazem falta, de como são importantes e difíceis de alcançar, numa forma atabalhoada de lhes dizer "não façam como eu senão ficam assim como sou".

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