Paradoxalmente, à medida que tenho que ir vivendo mais rapidamente, vou escolhendo viver mais devagar. Uma coisa é o que tem que ser: as reuniões, as programações, as realizações do que se programou, tudo isso acontece normalmente no fio da navalha. Tudo para ontem - quando não para anteontem - num frenesim constante que, para mim, tem tanto de desgastante como de sensacional. Quem me conhece sabe que eu não percebo nada de queijinhos verdes - só entende isto quem joga Trivial - e por isso não faço ideia de aciona adrenalina ou o que quer que seja cá para dentro, mas o que é facto é que tenho alturas em que quase fico bêbado de trabalho, de tal forma mergulho e me sinto imerso e feliz com o que faço. Mas isso é o que tem que ser. Que, em parte, escolho ser enquanto profissional. Depois há a lei da compensação. O que eu escolho viver quando não estou em modo trabalho. E aí vou-me apercebendo que vou escolhendo o lado mais calmo da vida. Uma boa caminhada, uma boa conversa, uma boa partilha, até uma boa música calma.

Hoje "revi" duas pessoas importantes na minha vida. Com uma delas conversei com calma, olhos nos olhos, saboreando as palavras, apreciando o olhar. Com outra foi por email, reafirmando promessas de almoços para retomarmos conversas e partilhas há demasiado tempo suspensas. Quando me despedi da primeira, como a conversa foi de qualidade mas escassa, pedi-lhe para caminharmos juntos um dia destes enquanto poríamos verdadeiramente a conversa em dia. Respondeu-me que ando sempre ocupado, sempre a correr e que lhe custava pedir-me para fazer algo do género. Vim a pensar - com tristeza, confesso - que esta é uma constatação idêntica a outras constatações de pessoas que me são importantes. E para quem, de alguma forma, sou importante. Vou percebendo, com elas, que a forma como escolho viver mais devagar faz ainda mais sentido se algures nessa forma de vida conseguir incluir pessoas.

De alguma maneira, tenho que conseguir sobreviver à voracidade do tempo para ter este tempo.

Fica como ponto da agenda permanente do próximo ano.

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