20170630
Hoje sentamos e conversamos com um dos miúdos do ER em quem mais confiamos. Estávamos todos convencidos que este ano ele tinha feito um excelente percurso: finalmente estava bem encaminhado num curso profissional que ele tinha escolhido, muito ativo, competente e responsável como monitor, ao ponto de lhe confiarmos ocasionalmente uma das salas e, o melhor de tudo, já começava a participar e a dizer o que pensa quando a isso era solicitado. Um caso de sucesso, quase um oásis no meio do deserto. Esta semana descobrimos, no entanto, por portas travessas, que ele nos estava a mentir desde fevereiro. Tinha desistido do curso e não nos disse nada, apesar de todas as semanas lhe perguntarmos como estava a correr e ele responder que estava tudo muito bem. Perguntamos-lhe porque nos tinha escondido a verdade por tanto tempo e a resposta foi óbvia: vergonha da desilusão que sabia que nos ia provocar. Hoje, sentados, olhos nos olhos, dissemos-lhe que a desilusão não diminuiu em nada a importância que ele tem para nós e para os miúdos com quem trabalha e propusemos-lhe uma penalização. Que ele aceitou com os olhos a brilhar. De alívio. E alegria.
Quando, no princípio desta semana, soube do que ele fizera, entendi logo porque o tinha feito. Revi-me logo no que ele tinha feito. Não sei o que nos leva a inventar realidades fantasiosas e a viver nelas como se fossem verdadeiras. Talvez porque não consigamos suportar a desilusão provocada nos que confiam e apostam em nós, tentamos tapar o sol com a peneira e adequamos a realidade ao nosso discurso, esquecendo que a realidade é real, e que acaba por nos cair em cima da cabeça. E, quando nos cai, quando somos descobertos, quando somos confrontados justamente por aqueles a quem desiludimos, a nossa maior preocupação é que a "pena", o castigo, nos permita voltar a reatar aquele elo de confiança que deitamos a perder. Naqueles olhos a brilhar eu revi os meus olhos de cada vez que, penitente, me permitem recomeçar. E foram tantas!
Hoje, depois da conversa com todos, quando estávamos apenas os dois, eu disse-lhe para aprender a confiar em nós. Que ele não inventava nada. Que não havia nada que ele fizesse que eu não tivesse já feito. Inclusivamente, que o que ele tinha acabado de fazer eu próprio já o fizera várias vezes. Por isso, não precisava de se esconder. Mas de assumir. E recomeçar. Connosco, que estamos aqui para o ajudar. Sempre.
Há alguns dias, raros, que me ajudam a perceber o que faço aqui no ER.
Paradoxalmente, à medida que tenho que ir vivendo mais rapidamente, vou escolhendo viver mais devagar. Uma coisa é o que tem que ser: as reuniões, as programações, as realizações do que se programou, tudo isso acontece normalmente no fio da navalha. Tudo para ontem - quando não para anteontem - num frenesim constante que, para mim, tem tanto de desgastante como de sensacional. Quem me conhece sabe que eu não percebo nada de queijinhos verdes - só entende isto quem joga Trivial - e por isso não faço ideia de aciona adrenalina ou o que quer que seja cá para dentro, mas o que é facto é que tenho alturas em que quase fico bêbado de trabalho, de tal forma mergulho e me sinto imerso e feliz com o que faço. Mas isso é o que tem que ser. Que, em parte, escolho ser enquanto profissional. Depois há a lei da compensação. O que eu escolho viver quando não estou em modo trabalho. E aí vou-me apercebendo que vou escolhendo o lado mais calmo da vida. Uma boa caminhada, uma boa conversa, uma boa partilha, até uma boa música calma.
Hoje "revi" duas pessoas importantes na minha vida. Com uma delas conversei com calma, olhos nos olhos, saboreando as palavras, apreciando o olhar. Com outra foi por email, reafirmando promessas de almoços para retomarmos conversas e partilhas há demasiado tempo suspensas. Quando me despedi da primeira, como a conversa foi de qualidade mas escassa, pedi-lhe para caminharmos juntos um dia destes enquanto poríamos verdadeiramente a conversa em dia. Respondeu-me que ando sempre ocupado, sempre a correr e que lhe custava pedir-me para fazer algo do género. Vim a pensar - com tristeza, confesso - que esta é uma constatação idêntica a outras constatações de pessoas que me são importantes. E para quem, de alguma forma, sou importante. Vou percebendo, com elas, que a forma como escolho viver mais devagar faz ainda mais sentido se algures nessa forma de vida conseguir incluir pessoas.
De alguma maneira, tenho que conseguir sobreviver à voracidade do tempo para ter este tempo.
Fica como ponto da agenda permanente do próximo ano.
20170629
Pergunto-me - pergunto-Te - muitas vezes porquê eu? Se não te terias enganado, se não estarias demasiado ocupado para olhares com atenção, se foi um descuido da Tua parte, se tinhas outras preocupações naquele dia - uma guerra, um conflito qualquer, alguém esfomeado - e estivesses a olhar para outro lado qualquer quando me senti chamado. Algumas vezes gostaria mesmo que me tivesses olhado atentamente. Que tivesses concluído que não valia a pena, que Te daria muito trabalho - que me darias muito trabalho - e que seria bem mais simples e eficaz escolheres outros. E olha que eu conheço tantos que seriam tão melhores! Algumas vezes gostaria de poder dar essa desculpa sem sentir a culpa de me e Te estar a tentar enganar: não conheço, conheço mas não ligo, não quero saber. Algumas vezes gostaria de me poder refugiar na minha pequenez, no meu nada, conseguir barrar de alguma forma essa Tua mania de me encher o peito e acelerar o sangue e sentir uma vontade incontrolável e inconsciente de ser, de participar e de tentar fazer. Evitar-me-ia a ressaca do saber que não sou capaz, da certeza que não vou conseguir e sobretudo o medo, o terrível e desolador medo, do que vão pensar quando perceberem que não sou capaz nem consigo, quando perceberem que, afinal, não valia mesmo a pena! Um olhar mais atento da Tua parte ter-nos-ia evitado tudo isto. Porquê eu?
Creio que apenas encontrarei a resposta quando Te encontrar (encontrarei?) e, olhos nos olhos, tiver (terei?) a ousadia de Te perguntar (perguntarei?) porquê eu?
20170626
Não me recordo de um único dia de aniversário feliz até me casar. Dado o meu espírito reservado, sonhador e solitário - que ainda hoje se mantém, para surpresa dos que me conhecem da superfície - os meus pais sempre pensaram que eu não ligava nenhuma a isso, que era feliz com e no meu mundo e que por isso não precisava de festa de aniversário para nada. Daí até se esquecerem que eu faço anos foi um pulo - o que se mantém até hoje, a não ser que sejam convidados para a minha festa - e eu habituei-me a passar exteriormente o meu aniversário como se fosse um outro dia qualquer. Interiormente, ficava felicíssimo quando alguém se lembrava que aquele era o meu dia.
Quando me casei, a Isabel fez de tudo para alterar a situação. Com alguma resistência da minha parte, confesso. Quando nasceram os filhos,a coisa ganhou um outro cariz, muito mais agradável, e agora é verdadeiramente um dia especial. E a Isabel empenha-se fortemente para que assim aconteça!
Quando vim trabalhar para o CNSR, o paradigma alterou-se ainda mais. No meu aniversário recebo sempre imensas mensagens nas redes sociais, no telemóvel, e até telefonemas atendo - eu que nunca atendo telefonemas! Recordo amigos e conversas e momentos e terraços e caminhadas e fico mesmo feliz pela oportunidade de os poder recordar. O meu dia de aniversário ganha assim uma espécie de balanço de vida, recheado de memórias de pessoas fabulosas, de vidas fabulosas que, malgré tout, me fazem estar aqui, hoje, como estou aqui, hoje. E isso é uma enorme constatação de felicidade. E gratidão.
Provavelmente esperaria que aos 51 estas coisas me fossem um bocadinho mais indiferentes, ou menos importantes. Não são. Conservo ainda a alegria de pensar que alguém, pelo menos neste dia, me dedica um bocadinho do seu dia para me enviar os parabéns. E que, pelo menos nos instantes em que o faz, recorda um pedacinho das nossas vidas em comum. Que, de alguma forma. justifica o trabalho de querer viver esse dia comigo. E isso é, verdadeiramente, uma Graça!
Quando me casei, a Isabel fez de tudo para alterar a situação. Com alguma resistência da minha parte, confesso. Quando nasceram os filhos,a coisa ganhou um outro cariz, muito mais agradável, e agora é verdadeiramente um dia especial. E a Isabel empenha-se fortemente para que assim aconteça!
Quando vim trabalhar para o CNSR, o paradigma alterou-se ainda mais. No meu aniversário recebo sempre imensas mensagens nas redes sociais, no telemóvel, e até telefonemas atendo - eu que nunca atendo telefonemas! Recordo amigos e conversas e momentos e terraços e caminhadas e fico mesmo feliz pela oportunidade de os poder recordar. O meu dia de aniversário ganha assim uma espécie de balanço de vida, recheado de memórias de pessoas fabulosas, de vidas fabulosas que, malgré tout, me fazem estar aqui, hoje, como estou aqui, hoje. E isso é uma enorme constatação de felicidade. E gratidão.
Provavelmente esperaria que aos 51 estas coisas me fossem um bocadinho mais indiferentes, ou menos importantes. Não são. Conservo ainda a alegria de pensar que alguém, pelo menos neste dia, me dedica um bocadinho do seu dia para me enviar os parabéns. E que, pelo menos nos instantes em que o faz, recorda um pedacinho das nossas vidas em comum. Que, de alguma forma. justifica o trabalho de querer viver esse dia comigo. E isso é, verdadeiramente, uma Graça!
20170619
A dor, particularmente a dor alheia, deixa-me sempre sem palavras. Em silêncio profundo. Nada há que eu possa dizer que consiga, ainda que brevemente suavizar a dor. Esse silêncio, nessas alturas, é sempre orante. Pode ser composto de interrogações, de incredulidade, porventura até de alguma revolta, mas é sempre dialogante com o meu Deus. que é o único interlocutor que me poderá ajudar a descobrir, eventualmente, algum sentido para o que, aos meus olhos, é completamente desprovido de sentido.
20170608
Ainda ontem comentava, a propósito do que dissera um amigo, que me vou apercebendo da tendência de falarmos sobre aquilo que nos é mais importante. A pessoa em causa é um tanto ou quanto intempestiva na sua abordagem aos outros. Como tenho tido o privilégio de trabalhar com ele mais intensivamente em vários projetos, tenho-me vindo a aperceber da sua necessidade de, nos seus momentos formativos, apelar ao cuidado que devemos ter na forma como lidamos com as pessoas que fazem parte do nosso quotidiano. Não o conhecesse como conheço e pensaria que ele faria um exercício de hipocrisia ao aconselhar aquilo de que ele próprio mais necessita. Mas na realidade eu sei que ele refere justamente aquilo que é mais importante para si próprio, e que ele sabe que não consegue alcançar com facilidade.
Ainda esta semana, enquanto o escutava, constatava que eu próprio faço isso com muita facilidade. Alguns dos conselhos que vou dando ser-me-iam muito úteis se eu me escutasse devidamente quando os deito da boca para fora. A história do sol na eira e chuva no nabal, da importância de nos conhecermos bem para podermos discernir os nossos dons e os colocar ao serviço dos outros, o valor do silêncio e da serenidade interior, tudo isso são coisas que eu digo com alguma frequência, mesmo precisando delas com a máxima urgência. Por outro lado, talvez os refira justamente porque tenho consciência de como me fazem falta, de como são importantes e difíceis de alcançar, numa forma atabalhoada de lhes dizer "não façam como eu senão ficam assim como sou".
20170607
Disseram-me, recentemente, que não sei ser amado. Provavelmente, será uma das minhas maiores verdades. O normal em mim é sentir-me mais vezes resgatado que amado. Mesmo nas maiores de amor que as pessoas na minha vida me vão proporcionando, o que fica, quase sempre, é gratidão. Por me irem buscar ao fundo do poço, por me fazerem voltar a ver a luz, por impedirem de permanecer na escuridão.
Ontem, numa das minhas bocas de mim próprio mais comummente utilizadas, disse que era um rafeiro. De imediato me assaltaram memórias de conversas de cães e de personalidades e de desmontagens e desmistificações que me acompanharam quase a vida toda. Não sei se alguma vez conseguirei resolver essa amálgama de memórias, de convicções, de fantasias, de discursos interiores que eu constantemente invento para conseguir encaixar em qualquer coisa. Mesmo nos meus momentos de serenidade interior, esse discurso dificilmente dura mais que quinze dias e lá tenho eu que voltar ao princípio, aos questionamentos, aos espelhos, ao desvio do olhar e à construção de um outro olhar que me seja mais suportável.
Não sei se, na verdade, alguma vez saberei ser amado. Se calhar isso acontecerá quando eu conseguir ter um outro olhar, mais claro, mais límpido, sobre mim. Numa outra vida!
20170605
Ainda acho incrível quando descubro - e carrego comigo esta ifantilidade de descobrir a mesma coisa como se fosse sempre a primeira vez - que algumas das pseudosabedorias que deito pela boca fora me seriam preciosas se tivesse a clarividência de as aplicar em mim próprio. É como se eu primasse por dar aos outros os conselhos de que mais preciso... e aos quais permaneço surdo.
Aquela gasta máxima de olha para o que eu digo não olhes para o que eu faço aplica-se a mim como uma luva. Como se o que sai de mim, dito ou escrito, saísse verdadeiramente de outra pessoa que não eu. Um alter ego, ou um grilinho falante que me soprasse as coisas ao ouvido.
Não me orgulho nada desta permanente incongruência, que me trouxe desde sempre mais problemas que soluções. A autenticidade do que vou sendo em cada um desses contraditórios momentos serve-me de fraco consolo, na realidade. O que sou, apenas me serve se o for também para os outros, e isso quase sempre é uma tarefa que não consigo desempenhar tão bem quanto necessitaria... e muito menos do que gostaria.
Esta é uma guerra antiga, com batalhas ganhas e perdidas, mas que sobretudo acarreta algum sofrimento e muito cansaço. Volta e meia desisto dela. Rendo-me a mim próprio, ao cansaço e ao desgosto, entrego as armas, e o que mais me apetece é ir para uma ilha deserta onde apenas eu e os meus eus contem, numa tentativa de vivermos em paz. Depois, algo ou alguém me acorda. E tudo recomeça. Do princípio. Ou como se fosse do princípio, porque a vida tem apenas um princípio, tudo o mais são recomeços. Com história(s). Com mágoa(s). Com esperança(s).
20170604
Eu sou católico. Não quero nem saber se sou um bom ou mau católico, na medida em que essas são formas de avaliar quem é mais ou menos, e eu acredito que na Igreja em que vivo e acredito esse tipo de avaliação ou julgamento não deve ter lugar. Eu sou católico. Não nasci uma família católica mas a vida encarregou-se de me dar a Igreja a descobrir e a possibilidade de a escolher. Poderia ter escolhido apenas Jesus - e não seria em nada menos por isso - poderia ter escolhido qualquer forma de protestantismo mas, depois de estudar as várias opções, escolhi a Igreja Católica como família à qual gostaria de pertencer. E pertenço!
Não sei se sou um bom católico. Como referi, não me interessa grande coisa. Assim como não me interessa se qualquer pessoa é ou não boa católica. Ou boa cristã. Ou boa muçulmana. Ou boa ateia. Quanto muito, interessa-me se é boa pessoa. Nunca esquecendo no entanto que todos nós temos os nossos momentos, bons e maus, e as nossas fases, boas e más, e a nossa vida interior, que normalmente permanece escondida aos olhares alheios e apenas a nós e a Deus diz respeito. Vou conhecendo o que diz a Igreja, o que escreve, diz e faz o Papa e os bispos e os padres a quem reconheço alguma sapiência, concorde ou não com ela. Vou lendo as escrituras e os documentos emanados pela Igreja, central ou local. Vou lendo o que escrevem os teólogos, encartados ou não, e, sobretudo, vou bebendo da imensidão de sabedoria que tenho o privilégio de partilhar daqueles com quem trabalho todos os dias. De todos eles recolho, analiso, guardo o que é de guardar, e tento deixar que impregnem a minha vida, o meu quotidiano, enriquecendo-o.
Nunca tive por hábito endeusar pessoas. Alguns dizem-me que será por desencanto mas eu acredito que será o oposto: são tantas as pessoas cujos gestos simples me encantam todos os dias que tenho dificuldade em enaltecer alguém apenas porque é mais conhecido por todos. É que eu não acredito nada em dons especiais, especialmente distribuídos pelo Espírito Santo sobre meia dúzia de eleitos, justamente porque para o Pai todos somos especiais e nenhum de nós está acima de qualquer outro de nós. Ou abaixo. E todos somos capazes de boas e más respostas ao Seu chamamento, consoante a nossa vontade e disponibilidade, devidamente condimentadas pelas nossas circunstâncias, e todos nós somos capazes de boas e más coisas, de boas e más palavras, de boas e más atitudes. Somos filhos, não somos deuses.
Naturalmente, não concordo nem gosto de tudo o que a Igreja diz ou defende. A Igreja que amo e na qual vivo permite-me que eu seja eu, exige que eu seja eu, ainda que isso dê a ambos mais trabalho, mais dúvidas, mais luta e, eventualmente, mais desgostos. É a mesma liberdade interior que eu transmiti aos meus filhos. Sabe Deus que seria mais fácil que eles fizessem o que eu quero quando eu quero mas sabemos todos que todos seríamos infinitamente menos se isso acontecesse. E quem ama quer sempre o mais, nunca o menos. Ainda que doa.
Eu sou católico. Ainda que seja frequente encontrar mais Igreja fora das igrejas que dentro delas. Ainda que sinta demasiadas vezes que complicamos as coisas ao ponto de quase escorraçarmos as pessoas. Ainda que no seu seio testemunhe, longe e perto de mim, lutas pelo poder que nada têm a ver com a Igreja de Jesus.
Mas tudo isso é largamente compensado quando estamos, à volta de uma mesa, a comer do mesmo pão e a beber do mesmo vinho. Aí, no meio de gargalhadas e conversas e discussões, onde todas as diferenças dão lugar à comunhão. Por vezes caio na tentação de acreditar que a vida de todos os dias deveria beber da Igreja. A Mesa, na partilha do pão e do vinho, recorda-me que a Igreja de Jesus partiu das coisas simples da vida de todos os dias! Foi aí que Deus escolheu habitar. Todos os dias. Em e com cada um de nós.
20170601
É antiguinha, a foto. Mas podia não ser. Seria exatamente a mesma coisa. Até poderia ser uma foto de bebés, que não mudaria nada. Ainda há pouco tempo disse à minha mais velha, que é já autónoma, já vive fora de casa - mas nunca fora de nós - que, ainda que tenha 90 anos, será sempre minha filha.
No entanto, não são bebés, os filhos que tenho. São pessoas. De corpo inteiro. Adultos. Com uma extraordinária capacidade de pensar e decidir e fazer escolhas e partilhar e defender as escolhas que fizeram. Não sei se será por terem sido habituados, desde pequenos, a pensar e a escolher. Não sei se será por termos privilegiado o que privilegiamos na sua formação: a educação, a consciência, a pertença, a abertura aos outros, o transcendente. Naturalmente, não gostamos de todas as suas decisões, de todas as suas escolhas, de todas as suas atitudes. Naturalmente, continuamos a discutir, abertamente, o que somos e o que fazemos. E a dizer quando não gostamos. E a aceitar quando não gostamos. E a apoiar, apesar de não gostarmos.
Não é raro descobrir nos meus filhos uma maturidade que por vezes me falta. Sempre que isso acontece, sinto o maior dos orgulhos no imenso que eles são. Apesar de mim.
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