Sempre tive dificuldades com o ser adulto. com o que se é suposto ser quando se é adulto. Sobre a seriedade e a palavra e o exemplo e a atitude e essas coisas todas que é suposto ter quando se é adulto. Eu, que sou casado e tenho cinco filhos, estou sempre à espera desse click que me ajude a perceber que ahhh, hoje sim, a partir de hoje sou adulto. Talvez deva dar mais importância ao planeamento que ao sonho, aos projetos que aos anseios, à realidade que à fantasia, aos pés no chão que à cabeça no ar, mas cheira-me que isso não irá acontecer nunca. A cada dia em que me forço a viver mais focado na realidade sucedem-se meia dúzia de despertares devidamente salpicados pela imaginação. Contrariamente ao que foi acontecendo nos últimos anos, fui aprendendo que nem tudo é mau, nisto. Ainda ontem esqueci a impiedosa ditadura do físico - na verdade a única coisa em mim que me recorda a idade - e joguei bola com os miúdos do RAIZ. É certo que hoje mal me mexo sem dar um ai mental, mas não são esses os ais que mais temo. O pior mesmo é quando esses ais mentais dizem respeito não ao corpo, mas à alma, à ausência de memórias felizes. Vivesse eu encarcerado numa ilha e nada disto teria grande importância. Não existiria repercussão nos outros desta minha congénita criancice. Não haveria espanto ou críticas ou incompreensões ou, no pior dos casos, choro e ranger de dentes. Haveria eu, apenas eu, fechadinho na minha ilha, sem chatear ninguém, sem gerar expectativas, sem ter que cumprir expectativas, sem nada nem ninguém, sem memórias, sem vida. 

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