Sempre tive dificuldades com o ser adulto. com o que se é suposto ser quando se é adulto. Sobre a seriedade e a palavra e o exemplo e a atitude e essas coisas todas que é suposto ter quando se é adulto. Eu, que sou casado e tenho cinco filhos, estou sempre à espera desse click que me ajude a perceber que ahhh, hoje sim, a partir de hoje sou adulto. Talvez deva dar mais importância ao planeamento que ao sonho, aos projetos que aos anseios, à realidade que à fantasia, aos pés no chão que à cabeça no ar, mas cheira-me que isso não irá acontecer nunca. A cada dia em que me forço a viver mais focado na realidade sucedem-se meia dúzia de despertares devidamente salpicados pela imaginação. Contrariamente ao que foi acontecendo nos últimos anos, fui aprendendo que nem tudo é mau, nisto. Ainda ontem esqueci a impiedosa ditadura do físico - na verdade a única coisa em mim que me recorda a idade - e joguei bola com os miúdos do RAIZ. É certo que hoje mal me mexo sem dar um ai mental, mas não são esses os ais que mais temo. O pior mesmo é quando esses ais mentais dizem respeito não ao corpo, mas à alma, à ausência de memórias felizes. Vivesse eu encarcerado numa ilha e nada disto teria grande importância. Não existiria repercussão nos outros desta minha congénita criancice. Não haveria espanto ou críticas ou incompreensões ou, no pior dos casos, choro e ranger de dentes. Haveria eu, apenas eu, fechadinho na minha ilha, sem chatear ninguém, sem gerar expectativas, sem ter que cumprir expectativas, sem nada nem ninguém, sem memórias, sem vida.
Depois de uma Jornada que, por todos os motivos e mais um, me encheu a medida, estou, finalmente! de férias. Como sempre acontece, ontem fui à missa. Uma igreja pequenina, fora dos grandes centros, predominantemente com avós e alguns netos. No altar, um sacerdote que poderia ser avô, a debitar, solene e profusamente, sobre o que aconteceu na JMJ: a maravilha que é ter tanta juventude reunida, a enorme importância do silêncio - que, segundo ele, os jovens não conseguem fazer (e ele não se calou um segundo!) - a organização da Igreja, capaz de congregar gente de todo o mundo, e sobretudo a centralidade da eucaristia dominical pois sem a paróquia nada se consegue. E termina a homilia assim: vamos rezar pelos nossos jovens, para que eles descubram que é possível a alegria na Igreja. Como se a alegria em que vivi mergulhado na semana passada acontecesse por causa deles e não apesar deles! Confesso que me torci todo com aquela homilia autoreferencial. Como é possível, depois do que vivi, dep
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