Entre a inúmeras áreas onde não sou nem nunca fui grande coisa, a da incapacidade de escolher destaca-se com grande notoriedade. Normalmente não escolho. Deixo que corra, até que não me reste alternativa. Não sei se por odiar despedidas - faço sempre fraquíssimas figuras! - ou medo das consequências ou incapacidade de aceitar perdas - e escolher significa sempre perder - ou por tudo isso junto, ter que escolher é matar-me. É-me muito mais natural deixar-me envolver até aos ossos com o que quer que seja, usufruir a intensidade do momento, não pensar no que acontecerá amanhã, e deixar que a vida e os acontecimentos da vida me transportem nos seus ombros. Será esta, porventura, a maior marca da idade em mim. Por um lado, já não tenho capacidade de viver infinitamente com um máximo grau de envolvimento, até por motivos de saúde. Ao longo deste ano letivo foram vários os momentos em que o corpo e a mente se ressentiram seriamente de noites mal dormidas devidamente acompanhadas pela tensão constante de tentar fazer as coisas bem. Em vários momentos, depois de um fim de semana de trabalho intenso, cheguei a casa completamente rebentado e a precisar de caldo e descanso. E isto é um problema para mim, porque dificilmente escolheria não participar em qualquer uma das atividades que me provocou esse desgaste. Não sei como, mas terei que tentar dar a volta a isso. Tentando, como sempre, até ao limite, conciliar o irreconciliável.
Mas se fico assim com trabalho, agora imagine-se como fico quando tenho que fazer escolhas noutras situações mais pessoais e infinitamente mais implicativas. São meses de noites mal dormidas, de conjeturações, de planos e projeções, de ações concretas e palavras concretas e, inevitavelmente, de avanços e recuos, com todo o desgaste que isso provoca em mim e, particularmente, nos que vivem à minha volta. Para mim, escolher é sempre, sempre, perder. Sempre. E viver com a perda. E eu nunca me habituo a lidar com a perda.

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