Sabem aqueles amigos que temos e que nos embaraçam e que apesar de nos embaraçarem nós gostamos imenso deles, particularmente de algumas das suas características, que compensam em larga medida todos os embaraços que nos provocam? Para mim, Fátima é um desses amigos.
Na próxima semana estarei em Fátima. Com o Papa. Ambos dispensáveis. E no entanto, uma feliz coincidência. Confusos? Pois...
Eu gosto de Fátima. Apesar de Fátima. Gosto da Capelinha, gosto do recinto, gosto da experiência de Igreja Universal, gosto da Procissão de Velas, gosto de lá rezar o Terço, gosto de me encontrar com a Mãe e de lhe rezar, gosto das inúmeras atividades que já lá tive, desde noites ao relento a encontros com jovens, gosto de caminhar até lá e do que acontece enquanto caminhamos até lá. Mas para isso tudo não preciso nada que a Nossa Senhora tenha aparecido aos pastorinhos, nem dos pastorinhos, nem das pessoas de joelhos, nem da beatice, nem da posição da Igreja relativamente a Fátima, muito menos do comércio e do mau gosto que circunda Fátima.
Eu gosto do Papa Francisco. Em muitíssimos aspetos gostava muitíssimo mais do Papa Bento XVI, mas acredito que o Papa Francisco é o Papa certo no lugar certo no tempo certo. Gosto de algumas coisas que ele diz, gosto de alguns dos seus gestos, gosto menos dos seus escritos, que me parecem sempre algo ligeiros e banais, cuja profundidade se esgota com a rapidez de uma novela sul americana. Gosto imenso da sua descomplexicação da Igreja, da cúria, do vaticano, de muitas outras coisas com as quais não me identifico coisa nenhuma. Gosto da ideia de irmos ver o Papa a Fátima ainda que deteste o que espero encontrar: a loucura exacerbada como se de uma popstar se tratasse, os cânticos e a receção apoteótica, a multidão ululante, e essas coisas afins que, provavelmente, fazem parte da tal experiência da Igreja Universal.
Durante esta e a próxima semana tentarei ignorar o imenso folclore da coisa, como terços imensos e de extraordinário bom gosto (!) dormidas caríssimas, bicos de pés e coisas dessas e preparar-me-ei para o que verdadeiramente importa: uma experiência, espero que memorável, de partilha de vidas e momentos e cânticos e atitudes que nos engrandeçam enquanto pessoas e enquanto católicos. Sim, porque Fátima também pode ser isso.

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