Uma das minhas filhas, por dever de profissão, contactou de perto com um dos casos da Baleia Azul. Conversávamos acerca dos motivos que poderão levar alguém a um tal nível de autodestruição. Ela, que conhece as minhas reacções primárias (tenho a tendência para a manifestação do choque inicial que rapidamente passa à aceitação) ficou espantada com o meu espanto. De facto, bastaram uns minutos de conversa para ela me fazer aperceber que, diariamente, lido com pessoas que são particularmente permeáveis a este tipo de fenómenos. Miúdos que não vêm qualquer sentido ou objetivo ou incentivo, mergulhados na ilusão das redes sociais, sem qualquer apoio ou interesse em casa. Os seus pais - progenitores, como muitos dizem agora - estão ou demasiado ocupados ou demasiado desinteressados com as suas próprias vidas, que vivem em paralelo e praticamente sem qualquer ponto de contacto familiar. São miúdos construídos sem alicerces, assentes numa rede com demasiados buracos, demasiado largos, nos quais se enfiam com demasiada facilidade. Claro que estão longe de ser a maioria - pelo menos nos meios onde atuo - mas, com facilidade, consigo pensar numa dezena de miúdos assim.
Não sou de grandes dramatismos. Nem sequer acredito que vivemos, hoje, tempos mais perigosos que todos aqueles que nos antecederam. Mas são estes os miúdos com quem lido, hoje. Com olhos, rostos e nomes concretos. Temos que ficar atentos.

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