Silêncio!
Preparamos tudo isto com todo o cuidado. Não sabíamos muitas coisas, demasiadas coisas, para quem tem a responsabilidade de conduzir um rebanho de quase cem miúdos. Mais ainda quando se faz parte de um outro rebanho de milhares! Muitos imponderáveis, muitas coisas que não controlávamos, muita preocupação, mas uma enorme confiança naqueles que levávamos connosco. Afinal, já rezáramos juntos, já caminháramos juntos, já partilháramos intimidades e alegrias e dores suficientes para confiar que tudo iria correr pelo melhor. E não poderia ter corrido melhor!
Naquela manhã dissera-lhes que, acontecesse o que acontecesse, iriam ser dois dias dos quais se iriam recordar daqui por vinte anos. Apenas lhes pedi boas memórias. Acredito que, hoje, todos as temos. Uns dos outros. Uns nos outros.
No entanto, apesar da multidão, apesar da juventude, apesar da diversidade de pessoas e culturas e países e até de formas de viver a fé, foi o silêncio o que mais me marcou. O da manhã. Estar num recinto com milhares de pessoas, numa belíssima manhã de sol, e poder escutar o silêncio, apenas entrecortado pelo alegre chilrear dos pássaros nas árvores circundantes, é uma experiência avassaladora! Esperava encontrar Deus na multidão e na experiência sempre profunda e rica da Igreja Universal. Não O esperava encontrar, de todo, num silêncio ainda mais profundo que o de Taizé, imerso numa multidão incomensuravelmente maior que a de Taizé. Momentos antes presenciara pulos e cantares e até uma certa histeria - confesso que não partilhada por mim e até um tanto ou quanto incómoda - pela presença do Papa e, de repente, o mais absoluto e profundo e orante silêncio. Imensamente surpreendente, imensamente revelador, imensamente transformador!
Recordarei esta peregrinação por muito tempo! As nossas palavras, as nossas partilhas, a forma como estivemos juntos durante todo o tempo! Ansiarei por aquele silêncio. Que dificilmente se voltará a repetir. Pelo menos naquela dimensão!

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