Por muito estúpido que seja, o meu epitáfio sempre me foi importante. Imaginar o que dirão de mim na altura da minha morte é algo que sempre me ocupou o espírito. Claro que é estúpido. e é estúpido principalmente para um homem de fé, principalmente para quem, como eu, confia tanto no amor do Pai que à hora do epitáfio já estarei no lugar onde apenas importa o que verdadeiramente importa e epitáfios não será, com certeza.
Provavelmente isto seria até divertido se não tivesse implicações na forma como vivo a minha vida. Estar permanentemente atento ao que pensam e dizem de mim pode ser importante para aferir o meu grau de estupidez natural e o seu impacto nas vidas dos que me rodeiam, mas não me pode levar a viver a vida em função das opiniões e das expectativas alheias. E esta tensão entre o que sou, o que gostaria de ser e o que os outros gostariam que eu fosse é permanente e nem sempre bem resolvido. Por vezes, nos dias bons, tudo flui com enorme naturalidade e eu questiono-me como posso me posso questionar tanto; noutras alturas, porém, essas tripartidas vozes ecoam ao mesmo tempo sem qualquer hipótese de compromisso de resolução amigável.
Quando aquelas tripartidas vozes entram em discussão procuro acalmá-las. Não as silencio, mas tento que, como em qualquer discussão minimamente civilizada, se escutem umas às outras. Que se manifestem, mas uma de cada vez, de forma a me permitir organizar interiormente. Para isso, tento recolher-me, em oração, em reflexão, em caminho interior e exterior. E aí, nesse recolhimento, encontro-me invariavelmente com o meu Deus. E comigo. Saber-me amado apesar de tudo serena-me e, serenando-me, permite-me uma escolha mais consciente. Saber-me amado por quem me rodeia, também. Rouba-me o medo, rouba-me ao medo, e devolve-me à vida.
E à alegria.

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