Adoro descobrir coisas novas em coisas velhas. Por vezes ando uma vida inteira focado num determinado aspeto de algo, ou de alguém, sem sequer me ocorrer uma outra leitura, uma outra perspetiva, uma outra verdade escondida ao meu acostumado olhar.
O Tempo, em Eclesiastes, é uma das leituras da minha vida. Desde sempre a liguei à sabedoria do Mestre Tempo, aquele que, escapando-se-nos ao controlo, prossegue o seu inexorável caminho. Sempre o tive, intimamente, como aliado, como bom motivo para ir esperando, pacientemente, o que algum dia haveria de ser meu. Fosse alguém, alguma coisa, ou o reconhecimento que sempre procuro sem nunca o admitir. Eu tenho tempo é uma frase que quem me ama me escutou já algumas vezes.
A questão é que eu, efetivamente, vou tendo tempo. Que nem sequer se esgota neste tempo mas acredito continuará num outro tempo. É essa a minha esperança, também. Mas eu também tenho responsabilidades sobre o tempo que me é dado. E nisso nunca tinha pensado a sério. Até agora. Porque não te sido fácil.
Assumir a minha quota de responsabilidade é assumir a responsabilidade de escolher agir ou não agir. Esperar ou fazer acontecer. Assumir a vida ou refugiar-me no que a vida me dá - que é, desde sempre. a minha postura mais natural... e mais cómoda. Que se expressa em coisas grandiosas e decisivas como se decido ter filhos ou casar ou dedicar-me a uma profissão, ou em coisas mais comezinhas mas não menos importantes como... impor o meu tempo a alguém. Coisas decisivas como telefonar ou não telefonar, falar ou não falar, enviar ou não uma mensagem. Decisivo porque é impor a minha presença, a minha recordação, porventura as minhas preocupações, a minha vida, a alguém que tem a sua própria vida com que se ocupar.
Dir-me-ão que quem ama está sempre disponível. Desde que... Confesso a minha manifesta dificuldade em não ultrapassar o desde que... Essa ténue linha que separa o que bom do já chateia, a saudade da imposição.
Afinal, há mesmo um tempo certo para cada coisa. Tenho é que tentar aprender que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.
E que cada coisa tem o seu tempo!
Que pode não ser o meu!

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