É dos livros. O horror ao vazio. E eu não escapo à regra. Antes a acentuo.

Alguns dos meus maiores disparates são cometidos quando pressinto a possibilidade desse vazio. De alguém em mim. De mim em alguém. É-me extremamente difícil lidar com essa sensação de perda profunda, que eu faço tudo para iludir, inclusivamente as maiores asneiras. É como se fosse agora e velhote o que nunca fui em miúdo: um puto birrento a bater com os pés no chão porque não consegue encaixar a realidade. Ou encaixar-se nela.

Na semana passada chorei numa eucaristia. Bastou que o sacerdote tivesse falado nas pessoas que perdemos. Bastou-me recuar alguns meses para recordar perdas de pessoas muito queridas, já mortas. E precisei de recuar muito menos para recordar perdas de pessoas para quem morri. Porque há perdas irrecuperáveis, umas por causa da morte, outras por causa da vida. Por muito que as tente varrer para debaixo do tapete e as tente remeter para as calendas, há sempre um momento de maior fragilidade onde o vazio me volta a habitar e a engolir.

Comentários

Mensagens populares deste blogue