Desde que, há muitos anos, li o Onze Minutos do Paulo Coelho, que o desapego volta e meia vem à baila. Na altura, foi muito útil, por causa da fase da vida em que os meus filhos se encontravam. Eu tenho uma clara tendência para a obsessão quando amo, e tenho muitas vezes a vontade de fazer com as pessoas o que faço com as minhas coisas. guardo-as cuidadosamente, apenas para mim, chegando até a escondê-las dos olhares dos outros. O que me vale é que com as coisas - e com as pessoas - cedo me apercebo que essa tendência é profundamente doentia e depois obrigo-me a abrir mão e a encontrar prazer no prazer dos outros com as minhas coisas. E as "minhas" pessoas. Naquela altura, os meus filhos estavam a entrar na adolescência e eu tive mesmo que aprender a abrir mão deles. Eu sou fortemente protetor e é-me extremamente fácil confundir proteção com abafamento, e tenho que estar muito atento à forma como lido com aqueles que amo para não passar do oito ao oitenta.
Amar sem posse é muito difícil. Tão mais difícil quanto mais importantes são as pessoas na minha vida. Aquela coisa da redoma encaixa na perfeição nos meus anseios mais egoístas. Ter alguém permanentemente à minha espera, à minha disposição, permanentemente feliz quando recebe a minha atenção e permanentemente disposta a conceder-me exatamente a distância necessária quando dela necessito, é profundamente tentadora. E ditadora!
Amar de coração cheio e mãos vazias é tremendamente difícil. Amar se esperar retorno, sem ditar condições, sem imposição alguma, numa entrega total sem montar defesas, sem pé atrás, não é para qualquer um. É para quem se ama o suficiente para poder amar assim. E para que se ama o suficiente para se permitir arriscar a ficar sem nada. E ainda assim, feliz!

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