É frequente, quotidiano, diria, ser tocado por uma imagem, uma foto, uma música que vejo na internet, ou na rua. Ou um filme, particularmente se tiver uma abordagem peculiar sobre algo que, naquela altura, estiver em processo em mim. Mas sou, basicamente, intrinsecamente, um homem da palavra. 
Aquilo que faz eco cá por dentro, que pode andar dias, semanas, ou meses a fazer caminho cá por dentro é, a esmagadora maioria das vezes, a palavra. Que pode ter sido dita, lida ou escutada. 
A que me magoa mais - e por isso permanece indefinidamente - é a dita. Por mim, claro. É quando me armo aos cucos e me deixo levar pelo entusiasmo do engraçadismo - que no meu caso tem sempre raiz na estupidez natural - e me apercebo, demasiado tarde, que acabei por magoar alguém. O que disse e a quem disse fica gravado indelevelmente. Aprendo a viver com isso. Mas não consigo - não quero? - esquecer. Tive um infeliz episódio no princípio deste ano letivo e ainda agora tendo a desviar o olhar da pessoa a quem magoei.
A mais desafiante é sempre a palavra escutada, diretamente, da boca e do olhar de alguém. Normalmente acompanhada da intensidade de quem me ama e por isso me quer feliz e por isso ou se alegra ou sofre comigo. Ou se desilude. Porque tenho a sorte de viver rodeado de sábios, são palavras que também acampam cá por dentro, mas de uma forma distinta. São desafios, permanentes, por vezes duros, por vezes inacessíveis, fruto do olhar demasiado bondoso de quem confia em mim muito mais que eu. E por isso se ilude também muito mais que eu. E que por isso me servem de catapulta para tentar ser aquilo que, sozinho, nunca seria.
A palavra lida é-me, no entanto, fundamental. É frequente levar uma imensidão de tempo a ler um bom livro. Leio e releio frases e parágrafos e páginas que copio cuidadosamente uma e outra vez para que me possa apropriar delas. É frequente voltar a livros que li antes e perceber neles um outro sentido que, durante anos, construíra ou interpretara de forma completamente outra, completamente errada. Nesta ânsia recente de procura de solidão dou comigo a imaginar uma casa sem televisão e sem filmes e sem notícias, eventualmente até sem música, mas nunca uma casa sem livros. 
Não me imagino sem ler. 
De todo.

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