Desde muito novo que estou habituado a lidar com o que eu chamo opinadores de sofá. E confesso que as suas opiniões não me merecem um respeito especial.

A última opinadora foi justamente uma da minhas filhas. Na minha paróquia temos uma coisa que se chama "Mesa de São Pedro" onde, todos os dias, várias equipas se vão revezando para que algumas das pessoas mais carenciadas possam ter algo que comer. Assim, todos os dias, ao jantar, é servida pelo menos uma sopa quente a quem, em princípio, mais precisa. Alguns de nós - os que querem - lá de casa, estamos ao serviço de 15 em 15 dias. Numa dessas noites, em que, necessariamente, chegamos mais tarde para jantar, a Mesa de São Pedro foi tema de conversa e uma das minhas filhas disse que não ia porque não concorda com aquilo, porque estávamos a perpetuar a miséria, porque nos limitávamos a matar a fome, porque aparecia lá gente que afinal não precisaria tanto como isso, porque... porque... porque... Depois de argumentarmos mutuamente disse-lhe que, se não concordava com o que estava a ser feito tinha duas hipóteses: ou vinha connosco e contribuía para solucionar aquilo com que não concordava, ou então respeitava aqueles que, ao contrário dela, não se limitam a ficar no sofá à espera que as coisas mudem caindo do céu aos trambolhões.

Fim da discussão.

Nestas alturas, lembro-me muitas vezes da Madre Teresa de Calcutá. Até porque, sendo eu um sofasista de gema, não me é nada difícil encontrar mil e um motivos para permanecer quieto no meu canto. Sempre que tenho que dar à perna, mil e uma questões me assaltam, e muitas delas são justamente aquelas que a minha filha advogou. E muitas vezes - provavelmente a maioria delas - se não fosse o meu motor fora de borda a puxar-me eu ficaria mesmo no sofá.

No entanto, ao fim destes anos todos, não encontrei ainda melhor forma de mudar as coisas, de mudar o mundo que me rodeia, que não seja arregaçar as mangas e meter as mãos na massa. Que posso fazer muito mais que dar de comer, ou que ensinar, ou que tentar educar, isso já eu sei. No fundo, trata-se sempre de tentar restituir a dignidade que muitos nem sequer acreditam ser um direito seu, de tal forma apanharam pancada a vida toda.  E isso, fazer alguém acreditar que é capaz, levá-lo a descobrir os seus próprios sonhos, convencê-lo que tem possibilidades de os alcançar, que pode lutar para conseguir torná-los realidade, eu nunca consegui fazer a partir do meu sofá, do meu pequeno mundo certinho e rodeado de harmonia e felicidade.

Por muitas boas ideias que tenha sobre o assunto.

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