Uma das coisas boas de crescer é a oportunidade de irmos corrigindo o nosso olhar sobre o mundo. Por vezes passamos anos a ver a (nossa) realidade sob um determinado ponto de vista e de repente essa realidade apresenta-se-nos completamente nova.

Por causa de um dia de reflexão do 10º ano, a dignidade tem andado a fazer caminho cá por dentro. Quanto mais vou pensando nisso, mais vou chegando à conclusão que a restauração da dignidade às pessoas é um dos  principais objetivos de Jesus. Na altura referia-me à Samaritana que, com Jesus, voltou a ter a capacidade de ir ao encontro das pessoas de quem antes fugia, voltou a poder andar de cabeça erguida, sem medo do julgamento que dela faziam. Mas isso pode ser aplicado a qualquer um dos interlocutores de Jesus: Zaqueu, Madalena, os cegos e os coxos, os leprosos, o bom ladrão... a todos Jesus fez sentir que eles eram dignos enquanto pessoas, enquanto desejo de futuro, independentemente da sua condição social, dos seus defeitos, do seu passado. Que a sua dignidade decorria do seu valor intrínseco enquanto pessoas, de quem queriam ser, das amarras que estavam dispostos a cortar para se encontrarem com Ele.

Acredito que o medo é o nosso maior limite. O medo de cair no ridículo, o medo de falhar, o medo de nos colocarmos nas mãos dos outros, o medo de deixarmos cair as defesas... sei lá, são tantos os medos - conscientes e inconscientes - que connosco se levantam da cama todos os dias que por vezes até nos fazem companhia enquanto dormimos. Muitos de nós vivem a partir do medo: tentam precaver o futuro, habitam-se a viver fechados em casulos, muito protegidos, muito senhores de si, controlando os acontecimentos até ao mais ínfimo pormenor. Julgando-se senhores da sua vida até um dia.

Se pensarmos nas grandes personagens da história, naquelas que efetivamente transformaram as consciências e o mundo, verificamos que aquilo que lhes é comum é justamente esse desassombro que impede que o medo lhes tolha a vida, que os impele a avançar contra tudo e contra todos.
E que aquilo que os separa, aquilo que os faz estar do lado certo ou errado da Humanidade - e sim, senhor, há um lado certo e um lado errado para se estar - é justamente essa noção de dignidade da Pessoa por que pautam as suas vidas.
E as dos outros.

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