Eu gosto de ver o mundo ao contrário. De olhar para onde mais ninguém olha. De tentar ver o que mais ninguém vê. 
Desde que me conheço que a corrente me é francamente desconfortável. Em tudo. No modo de pensar, no modo de agir, no modo de vestir... no modo de falar ;-)

Sempre que há encontros ou momentos especiais, a minha mais-que-tudo tem o condão de andar numa roda-viva. Conhece e fala com toda a gente, interage com todos com um à-vontade impressionante. Eu sou a sua antítese. Quem me quer ver bem numa situação dessas olha para um qualquer canto e eu lá estou, sozinho, a apreciar a multidão. É assim que me sinto bem, a olhar as pessoas, a observá-las, a sentir a sua azáfama, a admirar as suas capacidades. 

Lembro de ser miúdo e de viver perto da Praça da República, no Porto. Levantava-me cedo e ia para o jardim só para ver as pessoas. Olhava para elas sentadas no autocarro ou carregadas de sacos e imaginava as suas casas, as suas famílias, as suas conversas à mesa. Ainda hoje imagino essas coisas com muita frequência, tentando sempre ir para além daquilo que os meus olhos vêem. 

É um exercício solitário, este. Por opção e por respeito. Respeito porque é um bocado entrar na intimidade dos outros sem lhes pedir licença. Por vezes, quando olhamos atentamente para alguém, quando lhes prestamos atenção, quando nos dedicamos, ainda que por escasso tempo, a tentar entender alguém, acabamos por abrir uma qualquer porta que até aí estava fechada. E isso não se partilha. Por opção por puro comodismo, porque não gosto de dar justificações, porque gosto mesmo é de estar no meu cantinho, quietinho, o mais despercebido possível. 

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