Quando estávamos em Moçambique passei os primeiros dias a tentar explicar que eu sou naturalmente sossegado. Normalmente quem contacta comigo não fica com essa impressão: ando sempre com a minha guitarra às costas, sorrio muito, gosto muito de ambientes descontraídos e bem dispostos e volta e meia digo até algumas larachas para gente rir. Não é, contudo, por muito tempo. Quando estou rodeado de pessoas, sejam elas amigas ou não, o meu ambiente natural, onde me sinto mais confortável, é num canto qualquer, sossegado, a olhar, a ver e a ouvir quem me rodeia. Apesar de estar só não me sinto só, nada disso. Vou vendo uns e outros, ouvindo uns e outros, lendo uns e outros. E sorrio muito, à medida que os vou vendo e descobrindo. Sempre.

No início, esta minha forma de ser causou alguma confusão, mas cedo confirmaram que eu sou mesmo assim. Gosto muito de pensar, de dialogar comigo próprio, de me colocar em causa, de saber exactamente o que sinto quando sinto e porque sinto. E isso apenas pode ser feito com um certo recolhimento. Tento sempre, contudo, não me fechar aos que me rodeiam, estar atento a eles, às suas necessidades, às suas alegrias e tristezas. É através desse olhar aos outros que eu me encontro comigo próprio, me confronto, tento estabelecer a minha medida justa de ser, tento até encontrar a medida do ser de Deus, que se me revela naqueles que me rodeiam. E tento crescer, nos outros e com os outros.

Ás vezes consigo, outras não, mas tento sempre.

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