Tomara que amar fosse assim. Tão simples. Enfrentávamos a intempérie debaixo de uma rosa e tudo passaria rapidamente. E continuaríamos, incólumes, feitos de perfeição  e boas memórias. Não é assim. Nada na vida é assim. E arrisco-me a dizer que ainda bem que não é assim. Assim são todas as coisas corriqueiras, as que não têm valor, as que não nos deixam marcas suficientes para que lhes possamos dar valor. Assim é a estrada direitinha, plana. sem curvas à esquerda e à direita, sem subidas e descidas, monótona, cinzenta, pachorrenta, facilmente olvidável. Assim serão porventura os sonhos, feitos de desejos, recheados de anseios, avidamente sonhados de olhos abertos ou fechados, irreais e fantasiosos. Assim serão os projetos, uma vez alcançado o seu lugar jurado cativo no calendário, as datas marcadas como se não existissem imponderáveis e indesejáveis e novos desejáveis até. Assim serão todos os princípios, carregados de irrealidade, da mesma matéria do inalcançável. Mas nada disso tem o teu cheiro, nada disso tem o teu toque, nada disso tem o teu sorriso ou o brilho do teu olhar. Nada disso é pele e sangue a correr desalmado nas veias. Nada disso é suspiro e falta de ar. Nada disso é sonho de olhos abertos quando olho para ti e ainda não acredito que, apesar de tudo, ainda queiras ser minha. Porque é isso, é apenas esta imensidão que me habita e que tem o teu nome, que vale todas as intempéries. Abrigados na beleza e fragilidade de uma rosa.

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