Existem, naturalmente, traços pessoais que me acompanham desde que sou gente. Um dos mais comuns - e dos que mais me irritam - é o de dar conselhos que, se tivesse capacidade de os aplicar em mim próprio, me salvariam de situações estúpidas e aflitivas.

É-me memorável um dos anos em que, em Taizé, vieram até mim para conversar pessoas cuja sensibilidade e bom senso eu me habituei a admirar. Recordo a estranheza e a minha insistente pergunta: porquê eu? Para mim, era algo semelhante ao que João Batista deve ter sentido ao batizar Jesus: um profundo contra-senso. O mais normal, o mais natural, o mais lógico, seria que tivesse sido eu a pedir para conversar. Isto se eu conseguisse, alguma vez, ir ter com alguém para que me escutasse e me aconselhasse. Causa-me sempre enorme estranheza que me peçam conselhos quando o mais que eu consigo, nos meus melhores dias, é acolher com um sorriso e ser, verdadeiramente, todo ouvidos. Basta isto, esta atitude de escuta e a certeza de um tempo apenas nosso, para que as melhores respostas sejam encontradas porque quem precisa delas. Mas raramente são dadas por mim.

Digo muitas vezes, em tom de verdade-brincadeira, que há três coisas que eu faço muito bem: contas ao dinheiro... dos outros; educar os filhos... dos outros; resolver os problemas... dos outros. Aplicasse eu esta sageza ao que me rege e outro galo cantaria.

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