Ninguém nasce para magoar. Ou ser magoado. Ninguém nasce para o desespero ou para a dor ou para o desalento. Ninguém nasce para ver o sofrimento provocado no olhar e na alma. Dor, desespero, desalento, sofrimento são por isso alguns dos maiores ladrões do sono. Do meu sono, pelo menos. A responsabilidade de amar - amar acarreta sempre responsabilidade! - é também a responsabilidade de suavizar todas estas expressões negativas do amor. De assumir. De consolar. De alterar. De recomeçar.

Defendia eu ontem, como defendo sempre, que as redes sociais não são assim tão negativas para o relacionamento das pessoas. Que implicam sim uma adaptação da nossa parte à ideia de relação, que, pela primeira vez na história da humanidade, não conjuga distância física e temporal. É imediata sendo mediada e por isso propensa a desfasamentos e ilusões. Hoje posso namorar com alguém que está do outro lado da vida com a ilusão da proximidade. Mas assim que se desliga da rede e se olha à volta redescobrimo-nos imersos na realidade. Afinal, em determinada altura, a rede tem que ser desligada, mas esse botão apenas funciona no aparelho.

Não me lembro de ter escutado ou lido vindo de alguém credível que amar é coisa simples e fácil. Há medos e confianças, receios e entregas, sonhos e desilusões. Amar é cheio de começos e novos começos, de fins sempre renovados e juras irremediavelmente destinadas ao fracasso. Amar exige estar. Até pode ser ocasionalmente alimentado à distância, mas exige sempre estar, em determinada altura, para que os começos sempre novos possam ser devidamente caucionados pela doçura do olhar e confirmados pelo calor dos corpos.

Amar é também aceitar dolorosamente que por vezes amar só não basta. Porque há alturas em que percebemos que nada substitui o calor de um abraço devidamente caucionado pela transparência desse amor no olhar. Assim mesmo. Imediato mas não mediado. Olhos nos olhos.

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