Ás vezes penso e digo coisas que, para além de confundirem bastante, assustam o que me são e estão mais próximos.

Foi um fim de semana  que começou antes de começar: logo na sexta-feira recebi uma sms a informar a morte de uma amiga. Em boa verdade, a minha proximidade com ela é muito posterior à que tenho com a filha, que foi quem me enviou a sms. Apenas mais tarde, num CPM que fizemos juntos, contactei com ela e pude confirmar de onde vinha a doçura da filha. Ontem, para acabar, a notícia de mais um tumor em alguém próximo, por intermédio dos meus filhos.

Hoje, enquanto conduzia para trabalhar, a cabeça andava lá em cima, como de costume. E rezei por ambas, pedindo a Deus que olhasse por elas. E depois pensei como era estúpido e presunçoso da minha parte rezar por ambas. Que deus seria o meu se precisasse que eu rezasse para cuidar das "minhas" pessoas? Que tipo de deus sujeitaria o seu amor à recordação falível e discricionária de quem quer que fosse? Que amor seria esse, feito de moeda de troca, de vassalagem prestada, de comércio de atenção? Que deus seria esse? Não aquele em quem acredito ao ponto de mergulhar nele a minha vida.

A questão é que depois vêm à cabeça todas as bênçãos e todos os pedidos e todas as formulações e todas as missas de intenções que todos os dias são levados a cabo na Igreja a que pertenço. A questão é que depois recordo o que estudo e estudei, as inúmeras conversas off com tantos sacerdotes, que me dizem, em off, que muitas dessas coisas não fazem sentido à luz do evangelho mas que são costumes que, afirmo eu, importa perpetuar, até pelo condicionamento moral e financeiro dos que acreditam. A questão é sentir que muitas vezes a cara não bate com a careta. A questão é eu viver mergulhado de cabeça nesta Igreja que amo e na qual acredito mas que tem tantas coisas que eu preferia não existirem. A questão é que quando partilho isto com quem, de certeza, tem mais fé do que eu mas não a discute, me olham, assustados, de lado, na calada esperança que eu tenha apenas acordado com os pés de fora.

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