Existe, entre quem se ama, uma sintonia fina que nunca cessa de me surpreender. Não tem nada a ver com personalidade, com formas e maneiras de ser ou de agir, muitas vezes não tem a ver sequer com carácter. É algo muito mais leve, muito menos evidente, muito menos percetível, muito mais escapável. É algo que exige disponibilidade interior, caminho, abertura total, baixamento de defesas e, por isso, entrega absoluta. Neste tipo de sintonia nada há de objetivo. Uma vez percebida, como que se nos impõe, ocupando-nos a cabeça por via do transbordo da alma. Nada tem de racional, muito menos dá qualquer importância às inconveniências. Não liga puto ao instituído porque transforma, a dois sentidos, interferindo em tudo o que vem, condicionando tudo o que vai. Quem ama vê o que mais ninguém vê, atesta o que para todos é inexistente, acredita e alicerça-se com alegria no verdadeiramente inacreditável. Por isso quem ama assim é sempre novidade, sente sempre novo, desafia sempre, e um amor destes apenas pode crescer e fazer crescer. Quem ama assim não teme. Nada. Nem sequer deixar de amar assim porque o futuro não existe ainda e o presente é demasiado intenso para que possa dar lugar ao que quer que seja. Amar assim, nesta sintonia, é da ordem do inconsciente, do avassalador, do totalizante. Amar assim é fabuloso! Verdadeiramente fabuloso!
Depois de uma Jornada que, por todos os motivos e mais um, me encheu a medida, estou, finalmente! de férias. Como sempre acontece, ontem fui à missa. Uma igreja pequenina, fora dos grandes centros, predominantemente com avós e alguns netos. No altar, um sacerdote que poderia ser avô, a debitar, solene e profusamente, sobre o que aconteceu na JMJ: a maravilha que é ter tanta juventude reunida, a enorme importância do silêncio - que, segundo ele, os jovens não conseguem fazer (e ele não se calou um segundo!) - a organização da Igreja, capaz de congregar gente de todo o mundo, e sobretudo a centralidade da eucaristia dominical pois sem a paróquia nada se consegue. E termina a homilia assim: vamos rezar pelos nossos jovens, para que eles descubram que é possível a alegria na Igreja. Como se a alegria em que vivi mergulhado na semana passada acontecesse por causa deles e não apesar deles! Confesso que me torci todo com aquela homilia autoreferencial. Como é possível, depois do que vivi, dep
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