As amarras do passado e a vontade impulsionada pelo medo de não repetir erros cometidos são como a pimenta em excesso: roubam o sabor original da vida. Acabei agora de dizer a miúdos que o único antídoto para o medo era a confiança "qual a palavra para confiança na catequese? fé". A resposta uníssona apenas prova que o catequista deles é um bom vendedor. Tivesse eu essa confiança naquele que eu tenho como guia e as coisas seriam um pouco diferentes. Como nem sempre a tenho, como eu sou mestre no uso do complicómetro, como eu, por defeito ou feitio, tenho esta mania de contestar e por à prova e inquirir ad nauseam, descubro-me em cima do muro, quase em permanência. Talvez o cimo do muro seja o meu lugar. Talvez o muro seja o meu sicómoro e eu viva à espera, atento a quem passa, na secreta ânsia de um convite. Talvez eu sinta tanta saudade do muro que para lá volte, de vez em quando, na falácia argumentativa que é apenas para ver a paisagem. Talvez eu me sinto mais confortável assim, com sol na eira e chuva no nabal, com um olho para cada lado, como um camaleão, com idêntico mimetismo, sem no entanto abandonar o cimo do muro. Talvez seja aí, justamente aí, no cimo dos muros desta vida, que encontre a minha rota. Talvez seja aí, afinal, que tenha que prosseguir viagem.

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