Não é tudo bom, nas redes sociais. Não substitui o contacto pessoal, íntimo, olhos nos olhos, que nos ajuda a perceber quem é quem. Ninguém é amigo apenas porque partilha meia dúzia de superfícies no face ou nos blogues. Ninguém é amigo porque partilha umas coisas giras, normalmente escritas por outros, ou cómicas, repetidas e retransmitidas ad nauseam. Ninguém é amigo porque gosta do mesmo por do sol ou da mesma paisagem, ou do mesmo filme, ou da mesma música ou das mesmas pessoas... Ninguém é amigo apenas por causa disso. Mas também ninguém é amigo apenas porque se cruza por nós nos corredores ou nas ruas. Ninguém é amigo porque nos cumprimenta e nos diz "bom dia", ou "boa noite", ou "tudo bem?" seguindo o seu ritmo apressado sem esperar resposta. Ninguém é amigo apenas porque o vemos todos os dias e volta e meia até temos que enfrentar uma qualquer situação meio confrangedora e inventar conversas de chacha enquanto desejamos intimamente que apareça alguém que valha mesmo a pena e nos salve daquela situação. Nas redes sociais, como na vida, não é a disponibilidade nem a abundância do contacto que faz os amigos. Ajuda, pode até ser necessária, mas não é o core business da amizade.

Ontem, no meu aniversário, recebi imensos parabéns. De muitas pessoas com quem contacto todos os dias, de outras que não vejo há algum tempo, de outras ainda que "conheci" num qualquer areópago virtual que gosto de frequentar. Confesso que ontem à noite, depois do jantar, me deliciei a ler todas as mensagens, uma a uma. Soube-me muito bem! Por vezes parece-me que vivi muitas vidas, com geografias muito diferentes entre si, com pessoas muito diferentes entre si, e ler todos aqueles parabéns foi um excelente pretexto para viajar no tempo, rever velhos amigos, revisitar velhas brincadeiras, revalorizar dificuldades ultrapassadas, lutas travadas, que deram em pequenas vitórias e derrotas. Foi a minha vida que percorri, numa viagem que ajudou a engrandecer o meu dia de aniversário. Também por causa das redes sociais, tive ontem um excelente dia, que ousou relevar a neura do costume para lugar desconhecido.

Não é tudo bom, nas redes sociais. Não substitui o contacto pessoal, íntimo, olhos nos olhos, que nos ajuda a perceber quem é quem. Mas quando esse contacto não é mais possível, quando a vida se encarrega de nos conduzir, a cada um de nós, no seu percurso natural em nome do que cada um considera mais importante, as redes sociais são uma boa forma de mantermos os amigos mais perto da memória, mais perto do coração, mais tempo cá por dentro. E como acredito que o melhor da vida são aqueles que deixamos que nos habitem e os que nos deixam habitar, acredito que as redes sociais podem ajudar a ter uma vida mais saborosa.

O meu 47º aniversário foi-o.
Também por causa das redes sociais.
Obrigado a todos

Comentários

Mensagens populares deste blogue