Mandela


Tenho muita dificuldade em acreditar nos santos do altar. Não nas pessoas em si, cujo percursos de vida normalmente até desconheço, mas na nossa necessidade de as colocar em cima de um pedestal. Até porque as pessoas que conheci e que estavam mais próximas do que eu considero ser a santidade, não eram santinhas. De todo. Eram bem humanas, com problemas e dificuldades como todos nós temos, que cometiam erros como todos nós cometemos e que, como eu costumo dizer nas minhas catequeses meio em tom de brincadeira, faziam chichi e cocó como todos nós. Tinham era uma postura de vida, uma tenacidade e, sobretudo, uma sabedoria profunda - e algumas delas mal sabiam ler e escrever - que lhes permitia uma serenidade tal que acabaram por constituir para mim modelos de vida e de entrega aos outros.

Ainda há pouco tempo dizia a uma amiga que não tenho ilusões no que diz respeito às pessoas. Acredito na sua humanidade, na sua capacidade de fazer o bem e o mal consoante as circunstâncias, mas acredito ainda mais na capacidade que cada um tem de se fazer maior que as circunstâncias; não acredito em anjos ou demónios, acredito que todos o somos em determinadas alturas, mas acredito mais ainda na capacidade que cada um tem de se refazer permanentemente, sobretudo se tiver o amor como força maior; não acredito em super homens (por acaso acredito mais em super mulheres) mas em homens que se superam constantemente, muitas vezes porque outros dependem de si e não conseguem ver outra alternativa a não ser fugir para a frente.

Não creio que pessoas como o Mandela, Gandhi, a Madre Teresa ou Luther King queiram um lugar num qualquer pedestal. Todos eles foram, até certa altura, vítimas das suas próprias circunstâncias. No entanto, escolheram não se deixar arrastar por elas mas tomar as suas vidas nas suas mãos, prontos a assumir os riscos inerentes às suas decisões, prontos a entregar a vida para que a pudessem ganhar. Por isso aprendo com eles, por isso não lhes louvo mas louvo a Deus por eles. Porque, a exemplo de Jesus, interessa-me muito mais a humanidade que a santidade.

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