Recordo-me bem de uma discussão que tivemos, há cerca de um ano, acerca do Facebook, Twitter, Blogues e outros que tais. De como seria imprescindível, para fazer catequese, hoje em dia, utilizar estes meios de comunicação. De um lado estavam os defensores das redes sociais e do outro, em aparente oposição, aqueles que privilegiam o olhos nos olhos. Claro que as coisas não são excludentes. Não é pelo facto de eu alimentar o meu blogue ou de colocar pequenas questões no Facebook que acho que o contacto pessoal é dispensável. Será mais uma porta, mais uma janela, mais um meio de iniciar a conversa, como quem não quer a coisa, mas de forma alguma substituirá o que apenas o cruzamento dos olhares permite.

Desde que comecei a minha actividade mais assídua no Centro que os pedidos de amizade no Facebook aumentaram exponencialmente. Com eles veio toda uma série de pedidos de jogos, de aplicações, de fotos, de gostos, que têm o condão de me incomodar profundamente. Ainda esta semana, enquanto acedia ao pedido de amizade de um dos miúdos, pensava que se calhar era chegado o momento de abrir uma nova conta no Face só para estes casos. Assim, de alguma forma, a minha privacidade estaria salvaguardada e apenas os escolhidos por mim poderiam ter acesso às minhas opiniões, às minhas fotos, aos meus comentários mais pessoais.

No entanto, pouco depois, fez-se-me um click. Se eu lhes retirar aquilo que eu sou, o que fica para lhes transmitir? Se eu os impedir de ver as minhas fotos, se lhes cortar o acesso à minha família, aos pequenos pensamentos e orações que normalmente publico, se lhes esconder aquilo de que mais me orgulho, como lhes poderei transmitir, com naturalidade, o que torna os meus dias mais dias?

O que me deixa profundamente triste comigo próprio nisto tudo é que apenas considerei esta possibilidade quando as solicitações do Centro começaram a surgir. Porque antes, quando vinham de outro tipo de pessoas, as solicitações até me deixavam feliz. Lembrei-me dos convites de Jesus para partilhar a mesa com os pecadores e o medo que isso originava. Para que mesa gostaria eu de ser convidado?Terei eu assim tanto medo do contágio? Terei eu assim tanto medo de me conspurcar? Então encenava a partilha com uns, para que ficassem contentes com a aparência de mim, enquanto partilhava verdadeiramente com outros? É feio. É muito feio.

Volta e meia acontece-me isto: apercebo-me que tenho ainda uma capa que resiste à comunhão com aqueles para quem a comunhão é mais necessária. Não é algo de consciente, que me venha à cabeça todos os dias, mas é algo que por vezes, felizmente, se vai revelando, e me permite desconstruir-me e descer do pedestal em que me coloco a mim próprio.

Há bastantes coisas em mim, coisas grandes, coisas profundas, quase ineludíveis, que tenho mesmo que mudar. E que se manifestam assim, por vias travessas, por coisas pequenas.

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