Não é todos os dias que encontro coisas que encaixam em mim como uma luva. Começou por este post-tt (muito úteis estes post-its quotidianos que me levam muitaz vezes a refletir) e acabou neste estrondoso texto do Tolentino http://www.snpcultura.org/a_arte_da_lentidao.html

Se, por um lado, eu anseio por essa lentidão, que me ajuda a saborear a vida, por outro, desde que me conheço que não consigo deixar passar um dia sem fazer o esforço de crescer alguma coisa. Não existe, para mim, percepção de maior inutilidade que sentir que adormeço ainda menos do que acordei. Podem ser pequenas coisas, aparentemente inúteis, aparentemente sem valor algum, mas que me fazem sentir que não deitei a vida pela janela fora.

Este é um equilíbrio, ou melhor, uma tentativa de malabarismo, que nem sempre consigo alcançar. A imensidão de artigos, de textos, de músicas, de filmes, que tenho guardados à espera de dias melhores, de quando eu tiver tempo, irão justamente fazer com que nunca tenha tempo, num paradoxo de impossível resolução. Afinal, eu quero ter tempo para que o possa gastar e assim deixar de o ter. Estúpido, não é?

E no entanto é assim desde que me conheço. Mesmo quando era miúdo e trocava livros no farrapeiro do Bomjardim - só assim lhes podia aceder - havia sempre alguns, daqueles que eu, na altura, pensava ser os melhores, grandes, com muitas páginas e pesados, que não trocava nem lia mas guardava para quando tivesse tempo. Um tempo que, obviamente, ainda não chegou e se calhar nunca chegará. Mas isso é o menos, porque esse tempo é o tempo do não real, é o tempo que eu quero sempre ter, pelo qual anseio sempre, que vou chutando para a frente, vou adiando, mas que é importante que esteja sempre lá, à minha espera, no meu horizonte.

Tenho dias em que anseio pela velhice. Só para ter tempo para ler, ver e ouvir a imensidão de livros, textos, filmes e músicas que tenho guardados para esse tempo.

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