Vai hoje a votação uma proposta de permissão de adopção para casais homossexuais. Enquanto vinha para cá, ouvia na "minha" TSF o testemunho de um homem, homossexual, cujo companheiro adotou um filho mas que não pode por o seu nome no BI como pai, nem o do seu (efectivamente) filho como filho.

Estas coisas incomodam-me, no sentido em que me fazem sair da letargia em que muitas vezes me encontro em determinados assuntos para que os possa repensar, reavaliar para, eventualmente, os voltar a catalogar e arrumar no devido sítio.

À partida sou contra a adoção por casais homossexuais. Aliás, tive que fazer um percurso interior para tentar compreender - e assim aceitar - a homossexualidade, que me tende ainda a parecer um desvio comportamental profundo causado por um qualquer trauma de infância. E se nesta altura a homossexualidade me vai incomodando menos, não posso deixar de me questionar interiormente o que sentiria se um dos meus filhos me dissesse que era homossexual. Provavelmente acabaria por aceitar, mas, em boa verdade, não seria nada fácil. Por isso, apesar de ser politicamente incorreto, aceito a homossexualidade mais pelo respeito ao direito que um adulto tem da sua privacidade, que pelo facto de entender que é algo natural. No fundo, entendo que a forma como cada adulto vive a sua sexualidade diz respeito apenas à liberdade de cada um e ninguém tem nada com isso. Por isso, detesto tanto as bichas como os marialvas gabarolas. Não tem a ver com orientação mas com exibição.

No entanto, se isto vai sendo progressivamente pacificado dentro de mim, no que diz respeito à adoção a coisa complica-se muitíssimo. Porque não é de adultos que se trata, mas de uma criança, que precisa de uma proteção especial e não pode servir de joguete ou troféu nas mãos de quem quer que seja. Mas quando penso a sério nisto que acabei de escrever - que é o que me sai naturalmente - consigo logo contra-argumentar com facilidade: Quer isto dizer que a homossexualidade implica um qualquer instinto maquiavélico que leva à manipulação das crianças? Quer isto dizer que a orientação sexual de um adulto condiciona a sua capacidade de amar uma criança? Quer isto dizer que um homem ou uma mulher heterossexuais têm sempre a melhor das intenções ao querer adoptar uma criança? E o melhor do desempenho enquanto pais? Quer isto dizer que a probabilidade de uma criança ser amada pelos seus pais é maior num casal heterossexual?

Estas questões não são nunca fáceis para mim. Preferiria ter uma posição absolutamente definida, absolutamente certa, absolutamente balizada, mas, em boa verdade, ainda não o consigo. Claro que sei o que defende a Igreja a que pertenço; claro que sei que as emoções podem ser manipuladas, e com elas a racionalidade; claro que sei que no meio disto há pessoas que julgam que têm que ter o poder de adotar e que, sendo uma questão de poder, é necessariamente uma questão de instrumentalização da criança; claro que sei que há toda uma herança histórico-patrimonial, todo um processo evolutivo, que determina que as coisas sejam como são. No entanto, também sei que tudo isto são ideias, tudo isto são generalidades, tudo isto são coisas que não têm a pessoa A ou a criança B em causa, mas uma ideia de pessoa e de sociedade que nem sempre está convenientemente alicerçada na realidade de cada pessoa e, fundamentalmente, de cada criança..

No fundo, no fundo, creio que a principal questão a colocar será neste sentido? Será uma criança mais feliz numa instituição ou no seio de uma família que a ama, qualquer que seja a orientação sexual dessa família?

Quem tiver certezas que atire a primeira pedra. Eu espero.

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