A palavra latina cor (ou cordis), que significa coração, deu origem a várias palavras da nossa língua. Veja alguns exemplos: concordar é palavra formada do latim con + cordis, isto é, com coração. Quando duas pessoas concordam é porque seus corações estão juntos ou unidos. Discordar, por outro lado, é o oposto. Vem do latim dis (separar) + cordis. Quem discorda, portanto, afasta-se do coração do outro. Recordar, por sua vez, quer dizer "trazer de novo ao coração". A expressão "saber de cor" também vem diretamente do latim: saber de coração, isto é, de memória. E, por último, vamos destacar a palavra coragem, que também deriva de cor. Para os antigos romanos, o coração era a sede da coragem. 

http://www.dicionarioetimologico.com.br/searchController.do?hidArtigo=5747DD9B09FCF4BC1BDF8E2BA2B8D09B

Na eucaristia de ontem, o meu pároco referiu, a propósito do Evangelho, a origem etimológica da palavra recordar. E disse, naquele seu tão típico tom assertivo, que todos deveríamos saber um pouco de latim. E grego, acrescento eu.

Eu tenho uma tendência especial para aquelas coisas que não servem para mais nada a não ser para nos tornarem mais ricos. Quando disse à minha avó que ia voltar à faculdade para voltar a estudar Ciências  Religiosas, o comentário que ela fez foi aquele que muitos amigos calaram: "Que bom, filho. Vais ganhar mais?"

Uma das minhas filhas não seguiu o conselho que lhe dei na altura de escolher o curso superior. Sempre lhe disse que seria mais feliz a limpar bosta de cavalo e a ganhar pouco que a fazer qualquer outra coisa na vida. No entanto ela, como é uma miúda do seu tempo e vivemos um tempo de medo (qualquer dia volto a isto, à nossa cultura do medo) ela preferiu um outro curso mais convencional, teoricamente mais seguro, embora, estou convicto, o seu futuro passe pelos cavalos.

Também eu tive um tempo assim na minha vida. Estava farto de contar tostões, de ficar cada vez com mais mês no fim do dinheiro, e quando apareceu uma oportunidade de alterar as coisas, agarrei-a com tudo o que tinha. Aconteceu o que, comigo, apenas poderia acontecer: fui um desastre total. Por pouco, por muito pouco, esta minha ânsia de assegurar o secundário abdicando do primordial não deitou tudo a perder. Não valeu a pena. Fui infeliz e fiz infelizes aqueles para quem, estupidamente e contra os seus conselhos, renunciei de mim.

Aquela pequena frase de ontem dita pelo meu pároco foi um dos momentos altos do meu dia. Porque me permitiu recordar pessoas, situações e momentos, porque percebi que isso era voltar a metê-los no coração, era voltar a tê-los cá por dentro. Porque, pouco depois, deu origem a uma deliciosa conversa com um dos meus filhos, que também gostou da frase e com ela viajou... e viajamos...

Não Vó. Estas coisas não me fazem ganhar mais. Mas se tiver sorte, fazem-me ser mais.

Comentários

Mensagens populares deste blogue