Tudo seria incrivelmente mais fácil se não existissem despedidas.
Se pudéssemos viver sempre na presença
à mão de semear
pronta a colher
daqueles que, ao longo do percurso,
vamos permitindo que nos amem.

Tudo seria incrivelmente mais fácil se pudéssemos armar as tendas.
Isolados do resto do mundo,
viveríamos como se o mundo se esgotasse neste nós
que tão laboriosamente construímos,
mutualmente cheios de nós mesmos
alimentando-nos da imensidão que nos une.

Tudo seria incrivelmente mais fácil se ficássemos quietos,
no nosso canto
num terraço que tem um nome
num luar que tem um nome
numa capela que tem um nome
unidos por uma série de farrapos (cada um deles com um nome)
como se não existisse ontem nem amanhã.

Tudo seria incrivelmente mais fácil.

No entanto...

Se não estivéssemos sempre prontos a partir
se não estivéssemos sempre prontos a despedirmo-nos
se não estivéssemos sempre prontos a deixar que nos amem
se não estivéssemos sempre prontos a carregar as nossas tendas às costas
se não estivéssemos sempre prontos a alimentar-nos da imensidão
a abdicarmos do nosso canto
a partilharmos o nosso luar
a refazer a nossa capela com os farrapos de alguém
nem sequer saberíamos como é amar,
nem sequer saberíamos como são difíceis as despedidas
porque não saberíamos o que é amar

de tão entretidos que estávamos
no nosso pequeno mundo

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