Dizia eu, há uns dias atrás, numa daquelas minhas fases completamente desbocadas, típicas da minha descompressão, que na vida nada é muito sério. Que normalmente pensamos em demasia nas coisas, nas suas consequências, mas que, se tivermos fé, percebemos que nada de muito mau nos pode acontecer.

Foi (quase) sempre isto que senti ao longo da minha vida. Particularmente desde que descobri e decidi transpor para a minha vida a confiança num Pai que me ama. No entanto, também eu tenho um imenso historial de noites sem dormir porque a cabeça escolhe a pior das alturas para fazer prognósticos e estabelecer cenários possíveis de futuros impossíveis. Como se confiasse de dia e desconfiasse de noite. Como se confiar fosse mais uma decisão racional e não tanto uma adesão interior.

Acredito que ter fé é acreditar apesar de tudo. É confiar que, apesar de instintivamente tudo me empurrar para o outro lado, apesar de todas as evidências, todos os sinais de alarme, todos os conselhos pedidos e escutados a quem me ama, a derradeira decisão é minha e tomo-a depois de me escutar, depois de conversar comigo mesmo e com a minha imensa interioridade. Por isso, ter fé tem que partir de uma decisão minha, racional, voluntária, de me entregar ou então, pelo menos, de não me fechar ao que o amor pode fazer em mim. Tal como quando me apaixono por alguém, tenho que permitir que entrem na minha vida, que me revolvam as entranhas, dêem nova cor a uns dias e cubram de cinza outros. Mas nada disto é possível se eu não dou o primeiro passo de abertura, de vontade de me entregar (também por isso não acredito na inevitabilidade da infidelidade). Depois sim, deixo-me envolver, deixo-me mexer, deixo-me moldar, deixo que o Amor actue em mim sem comos nem porquês, acreditando que nenhum problema é demasiado sério, que nenhuma decisão é absolutamente definitiva porque tenho sempre alguém pronto para me dar a mão.

E acredito que essa confiança absoluta, quase irracional , é a Graça da fé.


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