Eu acredito que escolhemos aqueles que amamos. Quando partimos para a aventura, todos os dias renovável. todos os dias renovada, de partilhar a vida com alguém, devemos ter a capacidade de escolher, com um misto de razão e de coração, aquela a quem nos vamos entregar. Não basta a razão, mas também não basta o coração, assim como nem sempre amar chega para segurar uma relação.

Há na vida, contudo, aqueles a quem devemos amar, sem nunca terem sido escolha nossa. São os laços familiares que nos unem, para o bem e para o mal, e é com eles que temos que viver. E aprender a amar. E aqui a coisa é um bocadinho mais difícil. Temos que passar por cima de defeitos, de gestos e atitudes, temos que saber engolir sapos, aprender a olhar para o outro lado, por cima das coisas, e tentar encontrar nas pessoas motivos para serem amadas. Apesar de tudo. Porque não é preciso gostarmos de alguém para o amarmos. Gostar é algo instintivo, natural, apelativo, tendencial. E mais superficial. Mais volátil. Amar implica sair de mim, do que prefiro, do que eu gostaria que acontecesse e ir a encontro de alguém engolindo em seco. É mais difícil. Por vezes, muito mais difícil. E nem sempre é claro se vale a pena.

Sempre pensei que escolhíamos os do futuro e herdávamos os do passado. No entanto, tenho vindo a aperceber-me que não é bem assim. Que, de certa forma, também o futuro - a parte mais importante do futuro - se nos escapa pelos dedos fora. Os meus filhos começam a escolher aqueles que amarão pela vida fora. Com quem construirão(emos) o futuro, com quem partilharão(emos) a vida. São mais pessoas para aprendermos a amar, de uma forma totalmente diferente, de uma forma totalmente nova. Veremos o nosso amor, até aqui quase exclusivo - a ser partilhado por outros pais, a ser dividido - e não venham com histórias, a sensação é que o nosso amor é mesmo dividido - com outros, por outros, em favor de outros, aliás como deve ser, porque foi para isso que os educamos. Ainda agora, à vinda para aqui, conversávamos que as certezas eram nenhumas: vamos reagindo, vamos afinando posições, refazendo pensamentos, acomodando sentimentos que vão sendo, paulatinamente, um pouco menos estranhos.

Não é coisa fácil, esta de amar.


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