Sempre que eu digo a alguém que não sinto uma necessidade particular de estar fisicamente junto das pessoas de quem gosto ninguém me entende. Se calhar nem eu próprio, mas enfim. O que é um facto é que não é muito importante para mim falar todos os dias com as pessoas, acompanhar os seus passos minuciosamente, estar permanentemente com elas para alimentar esse amor.

Com os meus pais e os meus irmãos, por exemplo. Vivemos a poucos quilómetros uns dos outros e no entanto quase que nos encontramos apenas nas festas de aniversário uns dos outros - ou dos nossos filhos. Isso não quer dizer que não gostemos da companhia uns dos outros, ou que não acompanhemos - mais ou menos - como uns e outros estão. Nem que sintamos que em caso de necessidade basta um toque para nos juntarmos e sofrermos juntos ou rirmos juntos. Sabemos apenas que as nossas vidas seguiram caminhos na essência semelhantes mas paralelos e que por isso poucas vezes se encontram.

Gosto muito de conversar com pessoas inteligentes, que me interrogam, que me confrontam com as minhas próprias ideias e convicções e me obrigam a desmontar os lugares comuns nos quais me refugio demasiadas vezes. Aprendo sempre, quanto mais não seja a desmistificar-me e a não me levar demasiado a sério. Ainda agora, numa dessa conversas, perguntava-me se relativamente aos meus filhos também sentia esse desprendimento da distância. Respondi que não, que os filhos são um caso à parte, que todos sabemos que ter filhos é viver com o coração fora do corpo. Contudo, agora que a conversa terminou mas, como qualquer conversa que se preze, continua a vaguear cá por dentro, dou por mim a recordar que já disse aos meus filhos que não faço a mínima tenção que eles vivam lá em casa depois de adultos ou que eu viva em casa deles depois de velho.

Amo-os demasiado para impor a minha presença quando ela já não for necessária.

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