Chorar em público

Por Miguel Esteves Cardoso
Quando sair este jornal, a Maria João e eu estaremos a caminho do IPO de Lisboa, à porta do qual compraremos o PÚBLICO de hoje. Hoje ela será internada e hoje à noite, desde o mês de Setembro do ano passado, será a primeira vez que dormiremos sem ser juntos.

O meu plano é que, quando me expulsarem do IPO, ela se lembre de ir ler o PÚBLICO e leia esta crónica a dizer que já estou cheio de saudades dela. É a melhor maneira que tenho de estar perto dela, quando não me deixam estar. Mesmo ficando num hotel a 30 passos dela, dói-me de muito mais longe.
... Eu estou aqui ao pé de ti. Como tu estás ao pé de mim. Chorar em público é como pedir que nada de mau nos aconteça. É uma sorte. É o contrário do luto. Volta para mim.
http://jornal.publico.pt/noticia/28-11-2011/chorar-em-publico-23509804.htm
Não é a primeira vez que o amor entre o Miguel Esteves Cardoso e a Maria João me comove. Ao longo dos tempos tenho-o lido e acompanhado o seu sofrimento, as suas idas ao IPO, as suas cartas de amor públicas e publicadas. Parece-me incrível que este seja o mesmo MEC do Independente, dos livros com títulos desabridos, das dependências gastronómicas e alcoólicas. Um MEC que umas vezes era absolutamente genial e outras tremendamente snob, insultuosamente snob, a roçar a infantilidade. A realidade é que este amor, esta vulnerabilidade, esta capacidade de sofrer por quem se ama, pelo menos aos meus olhos,tem o condão de o humanizar e de o fazer subir uns valentes degraus na minha consideração. Não que isso tenha alguma importância para ele. Mas tem para mim. E, acredito, para todos os que sabem o que é sentir a dor de quem se ama.

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