Nada em mim é insignificante.
Absolutamente nada.
Nada em mim não se repercute naqueles que comigo vivem, que comigo contactam, que comigo dividem a azáfama do dia, que comigo tentam descobrir essa coisa efémera que é a felicidade. Não há gestos pequenos, não há palavras pequenas, não há atitudes pequenas, sem significado, sem consequências. Em mim tudo conta, tudo pesa, tudo significa.

E tudo me entra pelo olhar.

É espantosa a facilidade com que a vida me pode passar ao lado. Como posso passar ao lado das pessoas sem as ver, como posso passar ao lado das situações sem deixar que me salpiquem, como posso passar ao lado da vida dos outros sem que eles passem de figurantes de um filme que tem o meu próprio umbigo como actor principal.
Tudo porque, consciente ou inconscientemente, escolhi não olhar.

Acredito que o verdadeiro fundamento do AJUDA é justamente esse: educar o olhar. Fazer ver, fazer reparar, fazer notar que à nossa volta existem pessoas que vivem uma condição social diferente, que têm diferentes horizontes, diferentes limitações, e sonhos e expectativas e futuros que, à partida, sem que por isso sejam responsáveis, condicionam as suas vidas. E que, à partida, sem que por isso sejamos responsáveis, condicionam as nossas vidas. Mas que, à chegada, todos somos responsáveis pelas vidas uns dos outros.

Hoje acordei com esta vontade de reeducar o meu olhar.
Creio que é um bom desígnio para o Advento.
Talvez desta forma consiga reparar naquele que veio para me encontrar.


Comentários

Mensagens populares deste blogue