20111117
Estou habituado a semear. É das coisas que mais gozo me dá, aliás. Colocar uma semente aqui, outra acolá, deixando a eventual germinação ao cuidado de cada um e do Mestre Tempo. Sempre que posso vou acompanhando - se possível à distância - a evolução da cultura. Sempre que o consigo, sem interferir. Às vezes é complicado não interferir, particularmente com aquelas pessoas de que mais gosto, ou que me são mais fundamentais. Noutras vezes descubro que é mesmo importante que interfira, que corrija, que é esse o meu papel, como com os meus filhos, por exemplo. A responsabilidade pela sementeira é toda nossa e até uma parte da colheita será também nossa.
O que já não estou muito habituado é a ser terreno para sementeira alheia. Pelo menos não por alguém mais novo que eu. O que aprendo com a malta mais nova - e aprendo muitíssimo, Graças a Deus! - advém mais da minha observação da sua atitude generosa e confiante perante a vida que propriamente da sua preocupação em semear. Por isso, dá-me sempre um gozo extraordinário conhecer alguém que gosta de semear e tem a capacidade de o fazer com inteligência, sensibilidade e, sobretudo, sagacidade. Que não revela tudo, vai deixando peças soltas, uma palavra, uma frase, um sorriso, que acabam por acampar cá por dentro e me incomodam, no sentido que me tiram do comodismo que me paralisa.
Apercebo-me que estou perante um semeador quando, depois de estarmos juntos, há algo da nossa conversa que me inquieta, me desassossega, me provoca ao ponto de me levar a questionar o próprio sentido da vida, ainda que seja para confirmar os valores que defendo. Dou por mim a tentar encontrar as minhas razões de acreditar, a justificar as minhas opções, a identificar os meus defeitos e qualidades e o que fazer com eles.
Durante todo este processo sorrio. Sempre. Porque alguém se preocupa em me fazer crescer.
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