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Chegam aqui entusiasmados. Conhecendo-os como os conheço, já sei porquê. No bolso têm raspadinhas ou então talões de apostas. Algo que os faça sentir momentaneamente ricos por pouco dinheiro. Ou não. No fundo nem é assim tão importante. No fundo nem saberiam ficar ricos. No fundo, é outra a intrínseca mecânica que os leva a gastar o parco dinheiro nas apostas. 

Em casa dos meus pais sempre se apostou. Eu dizia, em tom de (mais ou menos) brincadeira, que o melhor que havia lá em casa tinha sido resultado de uma qualquer aposta. A minha mãe, então, tinha essa entre outras imensas e funestas adições. Que me transmitiu geneticamente. Que eu aprendi a controlar Algumas. 

No final de um destes dias de trabalho ia a pensar nisto enquanto conduzia de regresso a casa. Neste factor esperança ou sonho ou possibilidade de futuro, o que se lhe queira chamar, e que me habita até à medula. Houve um tempo - muito tempo, demasiado tempo - em que pensei que isso acontecia porque não gostava da minha realidade. No entanto, agora gosto e essa sensação permanece latente. Não tem a ver com ganhar ou perder, também, mas creio que tem a ver com sonhar, com apenas caber inteiro no sonho, com não caber todo na realidade, por muito boa e cumpridora que a realidade seja.

Na verdade, é isso que representam as apostas, as raspadinhas, as rifas que me fizeram companhia na infância. O sonho. A possibilidade de futuro. A esperança. Talvez seja essa a minha maior adição: a esperança. 

Podia ser pior.

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