20180516
Ontem foi dia da família.
Até há bem pouco tempo na família não havia lugar para grandes recordações. Habituáramo-nos a cavalgar a espuma dos dias sem grandes reflexões ou ilações para inquérito nos ia acontecendo. Que era muito! Histórias passadas, nem sempre bem passadas, muito menos bem resolvidas, mas nunca deixamos que isso interferisse na forma como apreciávamos a companhia uns dos outros. Não era uma falência, umas dívidas às finanças, uma perda de casas ou um atolado comum de vidas adiadas que nos ia impedir de sermos quem sempre fomos uns para os outros: amor feito de gestos e parcos em palavras.
Cada família tem a sua maneira muito própria de funcionar e a nossa sempre foi assim: se é para dividir não se discute, faz-se de conta que o elefante não está no meio da sala. É discutível, claro que sim, mas apesar de tudo permitiu-nos sobreviver juntos às falências e à crónica falta de dinheiro. Sobretudo permitiu-nos concentrar-nos no essencial, dando-nos o tempo para sabermos que nos amamos. Apesar de tudo.
Na foto de família que o meu irmão publicou há já lugar a recordações. E neste aspeto tem sido duro. Um cancro fatal, uma velhice natural, e a morte começa a fazer tão parte de nós como a vida. É novo. Até aqui as mortes tinham sido apenas as dos outros. É pena. Lamentamos. Choramos. Mas eram as dos outros. Estas foram nossas. E outras se seguirão. É a vida! E a morte!
Normalmente não falo muito neste lado da família. Normalmente não penso muito neste lado da família. Que está. Que persiste. Que faz parte do mais intrínseco que há em mim. Que está provavelmente na origem do que há de mais convulsivo em mim. E controverso. E profundo. Radicalmente profundo.
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Bambora
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